segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Parto normal – uma saga

Quando estava pensando em engravidar, da primeira vez, fui consultar um médico que me recomendaram. Eu tinha 36 anos e queria saber até quanto tempo era normal esperar desde o início das tentativas até engravidar mesmo, que vacinas era preciso tomar etc.
Batemos um pouco de papo e, antes mesmo de me examinar, o doutor disse:

– "Você só não espere ter parto normal".

– "Por que?", perguntei.

– "O primeiro filho, aos 36 anos...", respondeu ele. Assim, com reticências, como se fosse algo impossível, improvável. Nenhum fato mais concreto. Nenhuma estatística. Puro mistério.

Aquela foi minha primeira e última consulta com ele. E também o início de uma saga, e de uma coleção que mantenho até hoje: a de desculpas esfarrapadas.

O segundo médico a que fui, quando perguntei se fazia parto normal, me disse:

– "Mas você quer ter um parto normal, em São Paulo?"

Não entendi muito a ligação entre os assuntos: eu moro aqui, ele tinha consultório aqui...

– "No interior, onde tudo é mais sossegado e a maternidade fica próxima, tudo bem. Mas aqui, com esse trânsito...", foi a resposta.

E lá se foi a minha segunda vez de primeira e última consulta.


Quando já estava grávida, bem no comecinho, tentei uma médica. Lá pela segunda ou terceira consulta (já um recorde no meu caso), eu tinha lido um livro sobre gravidez e conversado com algumas amigas. Então comecei a perguntar:

1. "Você faz episotomia de rotina?" (Aquele dolorido corte no períneo que facilita bastante a vida do médico mas não a da mulher).

2. "Quanto tempo você espera até o bebê nascer?"

3. "Se eu precisar de uma cesárea vou ter de ficar amarrada na mesa?"

Respostas:

1. "Sim, claro, tem de fazer, você quer se rasgar inteira?"

2. "Não mais do que 40 semanas, é complicado..."

3. "É só um velcrinho, não é amarrada..."

Bom, foi minha terceira e última consulta.

A essa altura, eu começava a achar que encontrar um médico que fizesse parto normal, e sem tantas intervenções era praticamente um milagre. Fui então consultar o médico de uma amiga, a única que conhecia que tinha tido parto normal. Moço simpático, meu marido gostou, eu também. Ele falou que preferia fazer parto normal. Mais algumas consultas e lá fui eu, que continuava lendo e conversando, perguntar:

1. "Qual é a sua taxa de cesáreas?"

2. "Eu vou poder me movimentar como quiser durante o trabalho de parto?"

3. "Você faz episiotomia de rotina?"

Respostas:

1. "Não sei dizer, é alta, mas porque as mulheres pedem."

2. "Não, a gente coloca um sorinho na veia, deixa a veia pega, então, não dá para ficar zanzando..."

3. "Mas por que você quer saber?"

Quando falei que eu me sentia mais segura se soubesse o que aconteceria durante o parto, e que por isso estava lendo e me informando, veio a pérola:

– "Pra que? Não precisa. Pára de ler!!"

Saí do consultório e, mais uma vez, o Ricardo, meu marido, ouviu: "Eu não vou mais voltar nesse cara".

Só que eu já tinha um belo tempo de gravidez, e minhas opções pareciam ter voltado à estaca zero. O Ricardo começou a dizer que eu estava obcecada em ter um parto normal, que estava colocando isso acima de tudo... Discutimos. Mas eu não conseguia me ver com um médico, por mais bem intencionado que ele fosse (e acredito que era), que preferia que eu não soubesse de nada, que me dizia para parar de ler...

O livro que estava lendo naquele fatídico momento tinha vários relatos de parto (Mulheres Contam o Parto, de Adriana T. Nogueira e Ciça Lessa, editora Itália Nova, 2003. Recomendo). E eis que ali, no finalzinho, estava o link para o site amigas do parto. Quando digitei www.amigasdoparto.com.br, minha perspectiva mudou.

Era um site feito por mulheres, para mulheres, falando de parto normal. E havia lá o nome de duas doulas (vou contar em detalhes o que são em outro post): Ana Cristina Duarte e Andrea Amaral de Almeida Prado. Com um email!!

Escrevi para as duas, já um tanto desesperada, contando a minha história e pedindo a indicação de um médico que fizesse parto normal. Ambas foram gentilíssimas, solidárias e responderam rápido. Tinham 5 indicações.

Em uma cidade do porte de São Paulo só havia 5 indicações de médicos que faziam parto normal? Então, era praticamente um milagre mesmo! Prontamente comecei a ligar para todos na lista. Optei pela dra. Andrea de S. Queiroz Campos, que atendia próximo à minha casa, em uma ONG chamada Coletivo Feminista (as consultas ainda eram baratas!).

Na primeira visita, surpresa: em vez de subir naquela cama para ficar em posição ginecológica com as pernas apoiadas em suportes, deitei numa cama normal, e foi ela quem se ajoelhou ao meu lado, me oferecendo o espéculo (aquele aparelinho de terror que só pode ter sido inventado por um homem que odiava mulheres) eperguntando se eu gostaria de aprender a introduzí-lo. Andrea conversou comigo. Me ouviu. E me recomendou leituras e filmes.

Eu tinha encontrado um ser humano!!! Não pude disfarçar o meu alívio. A próxima tarefa foi convencer o meu marido a ir a uma consulta e conversar com ela. Àquela altura, ele tinha medo de que eu tivesse encontrado uma xiita que faria um parto normal mesmo à custa da saúde de nosso filho. O Ricardo foi. Conversamos os três. A médica explicou as razões que levariam a uma cesárea e as que não passavam de pretextos. O Ricardo tirou todas as suas dúvidas.

O resto da história? Eu tive um parto normal, com 36 anos de idade, em São Paulo, às 40 semanas e 2 dias de gestação, tendo como companhia, durante todo o tempo, o meu marido, Ricardo, a Ana Cris, que foi minha doula, e a dra. Andrea. Não foi pouco o tempo. Minhas contrações começaram numa sexta de manhã, se intensificaram à noite e a minha filha só nasceu no sábado às 21h30. Durante todo esse período, eu sabia o que estava acontecendo, recebi carinho e ajuda, fui respeitada e guiada com toda a consideração. Por isso, como já disse à Ana Cris e à Andrea, sei que minha filha é um pouco delas também.

Se você quer ter parto normal e aceita um conselho, o primeiro passo é encontrar um médico que realmente esteja disposto a desmarcar consultas, passar longas horas e acompanhar e respeitar a mulher para que isso aconteça.

7 comentários:

  1. Estou nessa saga também,só que em Joinville.E falta 6 semanas para o DPP...

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  2. Também quero parto normal, estou grávida de 22 semanas e moro em Salvador...vcs tem alguma indicação???

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    1. Oi, Maiane, você conseguiu seu parto normal aqui em Salvador? Estou grávida e à procura de um médico que faça parto normal.

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  3. Boa noite.
    Tb estou nessa saga. Pode me dizer quais médicos em SP fazem esse parto? Obrigada Vivian vivinurse@gmail.com

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  4. Olá Carolina, sinto tanto por não ter batalhado como você em busca do "médico ideal", hoje estou de 40 semanas e desesperada, pois confiei muito em meu médico e agora ele me pressiona a fazer uma cesárea, mesmo estando eu e meu bebê com total saúde. Já sou mãe de uma linda menina de 10 anos, que veio de parto normal e tudo perfeito. Tenho 35 anos, casada a 13 e estou numa busca frenética por uma médico que faça parto normal de última hora. Moro em Curitiba e meu plano de saúde é Clinipam, se você puder me ajudar em algo, fico imensamente agradecida. Aguardo... Obrigada. Eunice.

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  5. Olá Eunice!já faz algum tempo, mas como estou a procura apareceu seu comentário! Vc conseguiu ter parto normal? Pela Clinipan? Quem foi seu médico? Estou grávida e tbm tenho Clinipan...

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  6. Olá Eunice!já faz algum tempo, mas como estou a procura apareceu seu comentário! Vc conseguiu ter parto normal? Pela Clinipan? Quem foi seu médico? Estou grávida e tbm tenho Clinipan...

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