quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Engravidou? Diga adeus aos seus planos

Eu estava me preparando para fazer um trekking de 11 dias no Nepal, para uma reportagem. Tinha comprado mochila, pesquisado sobre o lugar e o frio, feito uma nécessaire de remédios básicos indicados pelo médico. E havia começado a andar, correr e me exercitar mais. Uma semana antes da viagem, me sentia especialmente bem-disposta, ótima mesmo.

– ”Nossa, esses exercícios extra funcionaram”, pensei comigo.

Foi então que a ficha caiu: era bem-estar demais. Só tinha sentido tamanha plenitude duas vezes na vida: no início de minhas duas gestações, com nenhum ou pouquíssimos dias de atraso menstrual. Uma delas, ainda na juventude, resultou em um aborto. A outra, na minha filha, Ana. Fui conferir: dois dias a mais do que o meu ciclo normal.

Eis a primeira lição que os filhos trazem: não planeje demais. Filhos vêm, entre outras coisas, para elevar a níveis improváveis nossa capacidade de improviso. Como quando eles querem fazer xixi no meio do nada e você não tem nem um lencinho de papel. Ou quando eles começam a chorar bem na hora em que você achou que o dia tinha terminado e já estava se preparando para se largar no sofá. Quando eles soltam a pergunta:

– ”Mãe, mas como foi que você fez para juntar a sementinha do papai com a sua para formar o meu irmão?”, aos 3 anos de idade…

Até pensei em levar meu filho na barriga para o topo do mundo. Segundo a obstetra, não haveria grandes contra-indicações. Mas a única comunicação disponível durante o trekking seria um rádio para emergências e, se algo acontecesse, eu estaria no Nepal, e provavelmente a várias horas de caminhada do vilarejo mais próximo.

A viagem ficou para outra vez. Ainda bem: porque, logo depois do extremo bem-estar, chegou a fadiga. Era uma invasão de novos hormônios tomando conta de mim. Cada vez que subia uma escada e ficava ofegante, me imaginava em terras nepalesas e agradecia por não ter ido. De superatleta eu tinha virado o mais café-com-leite dos seres. Não agüentaria nem o primeiro dia de caminhada.

Quando meu filho crescer, espero que a gente possa fazer a viagem juntos, cada um caminhando com as próprias pernas. Mas já sei que não adianta mesmo planejar. O bebê, como aconteceu dessa vez, é que vai indicar o caminho. Ter filhos é abandonar parte do controle e aceitar o ritmo da vida. Para alguém que gosta de estar no controle, como eu, eis uma lição nada fácil de aprender. Agora, uma coisa vou investigar: que hormônio é esse que age bem no início, meu Deus? Preciso de uma dose disso para sempre na vida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário