segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dê-se a chance de virar bicho!

Queria, em primeiro lugar, agradecer a todos pelos votos de saúde e felicidades para minha família. E também dizer que fiquei surpresa. O adjetivo mais usado nos comentários sobre o relato de parto do André foi "coragem". Engraçado, nunca me considerei uma pessoa particularmente corajosa. Antes de decidir algo, eu costumo ruminar bastante o assunto, pesar prós e contras, ficar com dúvidas. Vide os posts anteriores ("Em casa ou no hospital?"; " E o primeiro, vai para onde?").

Também não sou de grandes arroubos, nem costumo desafiar regras ou padrões. Na verdade, me acho bem normalzinha... A decisão de ter o André em casa, sem anestesia, não foi por bravura ou coragem, mas porque sinceramente achei que seria o mais confortável, o melhor pra mim.

E tendo agora passado pela experiência de um parto no hospital, com anestesia, e outro em casa, natural, acredito firmemente que parir é uma questão de entrega. Quanto mais você embarca e deixa as coisas acontecerem, em vez de tentar ficar controlando o processo ou lutando contra a dor, melhor a coisa flui. De novo, voltamos ao começo destes escritos: estar grávida, parir, criar filhos nos tira da zona de conforto que conhecemos, arranca de nossas vidas a ilusão de que temos tudo calculado. E quanto mais você consegue conviver com a idéia de deixar-se levar, mais leve tudo acontece.

Estar no hospital ou em casa faz diferença pelo conforto: em casa você fica mais à vontade, faz as coisas do seu jeito, no hospital há normas a seguir, pessoas desconhecidas. Mas o que acredito que fez mesmo diferença entre o primeiro e o segundo parto foi não tomar anestesia. A anestesia corta o processo, como se tirasse um plug da tomada: seu corpo continua ali, parindo, mas sua mente fica desconectada, passa a ficar ligada no que acontece em volta, e não no que acontece dentro.

Não vou mentir e dizer que não senti dor: senti, e muita. Parir dói. Mas é uma dor pela qual conseguimos passar. São ondas que você sente chegando, crescendo e diminuindo. Cada uma começa, chega ao ápice e termina, deixando um intervalo calmo até a próxima se formar e se espatifar novamente na praia. Mas depois que você passa por esse oceano de dor, o que fica é uma energia do tamanho do mar. A sensação de um poder transformador e uma ligação com o bebê que nenhuma palavra explica. Talvez "visceral" chegue perto. Sabe o que? Vale a pena virar bicho – ao menos por uma vez na vida!

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