segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O André nasceu!!

Depois de 41 semanas, 3 dias e 1 alarme falso no sábado anterior, o André finalmente saiu do barrigão.
Ele se fez esperar, mas, quando resolveu vir, nada no mundo o impediria. Lembra aquele papo de muita respiração, longas contrações e sensação de jacaré no pântano que tive no meu primeiro parto? Pois nada disso se repetiu.
Passei quase 1 semana com contrações indolores, porém fortes, que vinham sem muita regularidade e não eram consideradas trabalho de parto efetivo. Também tive, por vários dias, 3 dedos de dilatação. Mas nada acontecia.
No domingo 7/12, fui ao hospital para fazer um ultrassom, olhar o liquido amniótico e realizar uma cardiotocografia – exame que monitora os batimentos cardíacos do bebê e as oscilações deles durante as contrações. Tudo estava bem: liquido claro, em abundancia, bebê firme e forte, virado para baixo, ainda sem encaixar.
A Dra. Andrea, minha médica, fez um exame de toque e constatou os mesmos 3 cm de dilatação. Voltamos tranquilos. Depois do ultrassom no hospital, porém, eu tinha uma nova certeza: queria ter meu filho em casa mesmo. O tratamento no hospital, embora correto, está sempre em busca de um problema:
–– "Por que vocês estão fazendo ultrassom?" Perguntou o médico que me atendeu, ao começar o exame
–- "Para ver a quantidade de líquido amniótico", Respondi
–- "Qual é o problema?" Insistiu ele
–- "Nenhum. Só estamos monitorando a quantidade de líquido, porque já estou com 41 semanas e 3 dias"...
–- "E seu médico ainda não indicou uma cesárea?" Foi a resposta, espantada...
Assim que ele disse que havia líquido em quantidade suficiente, saímos correndo dali. Eu não queria ter o meu filho em um lugar onde nascer parecia sempre um risco, um potencial problema.
Continuei tendo contrações irregulares por toda a tarde. Desde as 17hs, passei a contá-las e davam 10, 12 em uma hora, mas nunca as tais 14 que indicam o "franco trabalho de parto". Algumas eram inócuas, outras, um tanto doloridas. Quando vinha uma mais doída eu respirava e dizia: “pode vir, meu filho, pode nascer”.
Fiquei nessas até as 21hs. E nada do "franco trabalho de parto". Achando que seria mais um dia de espera sem resultados, pedimos uma pizza. O Ricardo, meu marido, estava terminando de pagar o motoboy quando eu senti uma contração bem forte, e em seguida outra.
–- Liga para a AnaCris (minha doula), pedi.
Na terceira contração: “Pushhhh!!!!” a bolsa estourou. E, dali em diante, eu fui tomada por uma força indescritível. Era algo vulcânico, tão imperativo que não restava se não entregar-se e atravessar aquele caminho. Como se uma corrente contra a qual não adianta remar me levasse numa corredeira.
Fui para debaixo do chuveiro e tive mais umas 3 contrações fortes. Nisso, a AnaCris chegou e eu percebi uma intensa movimentação acontecendo: ela e o Ricardo preparavam toalhas, material, iam e vinham.
Senti vontade de ir ao banheiro. A AnaCris parou do meu lado e disse:
–– "Você já está no expulsivo ... não quer ir para a cama?"
Não conseguia acreditar nisso. Na minha cabeça ainda faltava muito. Eu nem tinha entrado no tal "franco trabalho de parto" e já estava no expulsivo? A questnao é que me sentia incapaz de me levantar dali e andar até a cama. Nesse momento, um puxo enorme empurrou minha barriga com toda a força para baixo, só para não deixar dúvidas: eu estava mesmo no expulsivo.
–- "Vou entrar na banheira", respondi. Era o único lugar a um passo de mim...
A AnaCris achou que não daria tempo de enxê-la de água. Mas tudo bem, estava disposta a ter meu filho na banheira vazia mesmo, contanto que não tivesse de me levantar, me pôr ereta e andar.
Deu tempo de enxer. Conforme a água quentinha foi tendo contato com meu corpo, as contrações, muito seguidas, deram uma espaçada e me permitiram respirar melhor.
Doía e a cada uma eu fazia força, não porque eu quisesse ou comandasse o processo: eu era apenas um corpo tomado pela natureza, que me impelia a fazer força. Não havia nada mais a fazer. Gozado que, apesar da dor intensa, em nenhum momento me ocorreu pedir anestesia ou qualquer forma de alívio. Eu não pensava nisso. Só fazia o que tinha de fazer: puxar para baixo.
–– “Já está dando pra ver um cabelinho”, disse Andrea, a médica, que tinha chegado na sequência.
Nessa altura, ela, a AnaCris e o Ricardo me olhavam da beira da banheira. Eu encostada na outra borda. A dra Nina, a pediatra, também havia chegado e via tudo de longe, preparando coisas. Foi então que Andrea disse:
–- "O que é isso, um pé?"
Achei que estivesse brincando e olhei pra ela meio brava: como assim, um pé? Meu bebê estava de cabeça para baixo, ela tinha apalpado e o vimos no ultrassom naquela manhã!!
O pensamento de ter de sair dali e ir para o hospital cruzou minha mente. Mas eu não tinha a menor possibilidade de realizar tal operação!! Eu era um ser fazendo força. Eu era respiração, dor e puxos. A AnaCris colocou a mão e falou:
–– "É o narizinho. Ele está vindo de cara!!"
Em mais uma contração, senti o bebê encaixar já para sair. Na seguinte, parte ficou para dentro e parte saiu. Coloquei a mão e perguntei:
–– “O que é isso que estou sentindo??”
–- "É o rostinho dele", responderam.
Vi o Ricardo aflito e tirei a mão para não enfiar um dedo no olho do meu filho antes mesmo de ele nascer! Então a Andrea explicou:
–– "Carô, nessa posição, o bebê não consegue empurrar e te ajudar a fazer força. Você vai fazer isso sozinha".
Ela estava calma e, com a mesma voz suave de sempre, pediu:
–- "Aproveita para respirar e, na próxima contração, faz uma força bem comprida. Usa toda a contração"
Me concentrei e atendi o pedido, sentindo uma dor intensa... Força e... André estava no meu colo: grandão, inteiro, vivo!
Toda a dor passou. Ele foi limpo com umas fraldinhas aquecidas pela dra. Nina no aquecedor e ficou no meu colo até que o cordão parou de pulsar. Então a dra. Nina o prendeu e perguntou:
–– "Quer cortar?"
Cortei o cordão com uma tesourinha e o André choramingou um pouco. Enquanto eu expulsava a placenta e a dra. Andrea costurava uma laceração que tive (menor do que seria uma episiotomia), a dra. Nina media e observava o bebê. Acordamos a Ana, minha filha de 4 anos, que dormia no quarto ao lado.

Ela viu o irmão ser pesado em uma balancinha que parece uma rede de pano, depois escolheu para ele sua primeira roupa e ajudou a vesti-lo. O bebê veio para o meu colo para sua primeira mamada, e o resto do pessoal foi esquentar e comer a pizza que tinha chegado...

Hoje, a uma semana do parto, os hormônios do esquecimento já começaram a agir. Minha lembrança da dor não é mais tão vívida. Mas ainda lembro de, depois de conseguir fazer ele nascer, olhar para a doula e a médica, na beira da banheira, com uma certa raiva, como se dizendo:

–– Puxa, vocês não fizeram nada! Eu passei por tudo sozinha!!

E não é disso mesmo que a natureza nos tornou capazes? De parir? Agora minha sensação é a de um enorme poder, de auto confiança: eu dei à luz ao meu filho. E adquiri com ele uma conexão enorme, visceral, por vários momentos, quando o tenho nos braços, me sinto um bicho lambendo orgulhosamente a cria.

Sinto também uma enorme gratidão em relação à AnaCris e à Andrea: elas tiveram a sabedoria de me amparar e acompanhar, intervindo somente quando necessário, com a maior delicadeza, e deixando a vida fazer o resto. Fica aqui o meu maior obrigado a elas e ao Ricardo, meu marido, por me incentivar e jamais duvidar das minhas escolhas.

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