sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Meu banho, meu templo

Encontrei um post antigo, que, na loucura dos dias, ficou sem publicar... Aqui vai. Embora tenha parado de amamentar, todo o resto continua valendo!

Trabalhei durante alguns anos numa revista feminina dirigida ao público mais popular. E, quando fazíamos reuniões com as leitoras, ficava espantada quando elas falavam com imenso prazer da hora do banho. Era para elas um momento fantástico. "Será que as casas são tão cheias de gente que o único instante de solidão a que elas têm direito é quando se trancam no banheiro?", me perguntava.
Não cheguei a compreender de fato esse sentimento até ter filhos. Só então descobri que fazer do banho diário um retiro é coisa de mãe, não tem nada a ver com casa muito povoada ou condição sócio-econômica.
Acontece que o banho se torna o único momento do dia em que a gente se permite estar inteiramente dedicada a si. Afinal de contas, está justificado, né? A gente não pode andar fedida por aí...
Hoje, compartilho inteiramente com elas dessa sensação: que prazer ser dona de 10, 15 minutos ininterruptos (com sorte, se um dos filhos não entrar para perguntar ou pedir algo) em que a água caindo faz nosso corpo voltar a ser palpável, voltar a ser inteiramente nosso!
Principalmente quando você está amamentando, como acontece comigo agora. Não que amamentar não seja um prazer. É. Eu adoro alimentar meu filho. Mas o corpo, componente intrínsico do eu, passa a ser compartilhado durante a amamentação. E não como quando ele estava dentro da barriga, algo mais intimista, mais difuso. Trata-se de pura concretude: ele tem fome, eu sou comida.
É nesse contexto que o banho nos traz de volta. Fechar a porta, girar a torneira e sentir as gotas deslizando pela silhueta devolve a sensação de unidade. Eu volto a ser apenas eu. E não há nada melhor para sanar a alma.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Estressadinho

Mea culpa. Mea meaxima culpa. Por mil motivos, o blog acabou ficando um tempo parado. Estou querendo retomar. Assim, estou querendo, meio reticente, porque preciso pedir licença a todo o resto da vida para abrir espaço para escrever.
O fato é que o André já passou da fase de sentar, começou a engatinhar e agora tem um – imperativo – objetivo na vida: ANDAR. Todos os seus esforços, desde que ele abre o olho até que cai, fulminado de exaustão, se concentram nesse alvo. E ele não tem minuto a perder. Trocar fralda? Pra que? Ele esperneia e se revira (o que por vezes resulta em cocô esparso para tudo o que é lado) deixando claríssimo que ele não é bebê de ficar parado. O bichinho parece atleta em treinamento pra maratona. Comer, que antes era uma descoberta, um prazer... pra quê? Seu nome agora é andar. Se ele puder investir todos os segundos de sua existência nisso, tanto melhor. Dormir? Ah, outra perda de tempo praticamente intolerável! Ele está morto de sono, mas se remexe no colo e tenta, mesmo com os olhos fechando, fazer uma última gracinha, para ver se alguém lhe faz a caridade de colocá-lo no chão. Depois de dormir algumas horas e de recuperar o fôlego, aí vamos nós de novo: reviravolta, agachamento, caçar os barrotes do berço (muitas vezes acertando neles a cabeça, mas o que é um galo diante de algo maior como se erguer, minha gente?), mais um esforço e... voilá lá está o bebê paradinho no berço, 4 da madrugada, felicíssimo e conversando, querendo começar a prática. Alguém aí sabe como explicar a um bebê que ele tem uma vida de caminhadas pela frente?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A grande boca e o peito regulão

Por dias, tudo flui em um ritmo ao menos razoável. Mama-se a cada 3 horas, dorme-se – um tanto picado, obviamente –, mas todos felizes. Aí, por algum motivo (dia mais quente, tomei menos água, sabe Deus!), o mísero equilíbrio conseguido vai para o beleleu.
E pronto: viramos eu o peito regulão e o bebê a boca gigante. Ele só quer mamar, o que me deixa exausta e com menos leite, fazendo com que ele queira mamar mais, e eu fique mais exausta e com menos leite... E assim o círculo vicioso está instalado. E os sorrisinhos acabam. E a vida azeda.
Sinto claramente que ele me vê como um peito imenso que não quer lhe dar o que precisa e eu passo a considerá-lo um ser sugador, que me consome.
Pois bem, acabei descobrindo que, nessas horas, uma mamadeira não faz mal a ninguém. Ele consegue o leite a mais que tanto reclama, eu uma pausa, e assim o ciclo virtuoso é retomado: mais descansada tenho mais leite, ele mama o quanto quer, nos amamos novamente.
Esse negócio de bebê largar o peito porque tomou 1 mamadeira é balela, mais uma para a coleção de proibições que nos incutem.
Sabe o que? A imagem de mãe-mártir está supervalorizada. Mas acho que funciona totalmente ao contrário: em vez de sacrifício, como tendemos a encarar, resignadas, cada vez que buscamos também a satisfação (pelo menos mínima) de nossas necessidades, tudo melhora.
Sabe aquele aviso no avião: "Coloque primeiro sua máscara de oxigênio e depois ajude os outros à sua volta"? Mais ou menos por aí. É preciso respirar para ter o que oferecer. Mães sufocadas, exaustas, mártires podem ficar bonitas nos dramas, mas não alimentam nem ajudam ninguém.

domingo, 21 de junho de 2009

Manha? Mas já?

Desde que o André era muito pequenino (agora que já o consideramos grande, com seus seis meses de vida), essa dúvida percorre nossas mentes:
– Está doendo alguma coisa ou é pura manha?
Como ele teve muita cólica, o colo se tornou um lugar comum: quentinho, acolhedor, a salvação quando a dor apertava.
Mas, por muitos momentos, parecia nada acontecer e mesmo assim ele gritava por colo. E não se trata de qualquer colo: em pé, e balançando, é muito mais legal do que sentado.
Acontece que agora o touro no qual ele foi se transformando pesa mais de 8 quilos. E ficar zanzando com ele nos braços o dia inteiro é impraticável. A gente até se reveza: mãe, avó, pai, empregada... Todo dia ele ganha um tantinho de colo em pé de cada um. Mas por vezes não basta.
O que mudou é que agora temos certeza: por vezes é manha pura. Basta você fazer menção de levantar, por exemplo, que um berreiro digno de apavorar fica suspenso no ar, para no ato. E é voltar a sentar que a reclamação recomeça. Nem uma lágrima. Zero dor. Puro desejo. "Colo em pé é mais legal e eu quero". Simples assim.
Bebês têm total consciência de seus desejos e lutam por eles com armas e bagagens. Não existe essa de se conformar. Eles vão até o fim de suas forças. Pelo menos o meu...
Ontem não havia colos disponíveis e ele teve de ficar um tempo na cadeirinha. Os gritos de raiva ecoavam pela cozinha. Acho que se eu fosse minha vizinha eu chamaria o conselho tutelar pra ver se alguém estava maltratando a criança!! E tudo o que estava acontecendo era: ele sentado numa confortável cadeirinha – que balança! – enquanto mãe e empregada zanzavam daqi para lá preparando papinha e jantar. Ele urrou por cerca de meia hora, no relógio, ensurdecendo a todos. Bastou pegar no colo e nem disfarçar ele disfarçou. Enquanto era içado, já parou e sorriu satisfeito:
– "Mais uma que eu venci", dizia sua expressão...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Exaustão

23h30. Mamada, tudo certo, parece que vamos dormir. 1h, primeira acordada. Chupeta e de volta ao sono. 2h, segunda acordada. 4h, terceira acordada e só a chupeta já não adianta, um pouco de colo. 4h30, mais colo e os braços parece que não vão conseguir segurar os 7 quilos e tanto... 5hs, cólicas, contorsões, berreiro deflagrado. "Tem que fazer alguma coisa", diz o pai. "Assim não dá". Resta saber quem é a pessoa que "tem que fazer alguma coisa". Digamos que a mãe, depois da oitava acordada da noite - fora a mamada –, já no sofá da sala pra tentar não incomodar o resto da família não tem condições de fazer coisa alguma. Muito menos de aguentar frases sem sujeito ("alguém"?)...
Às 6hs eu me rendo e tento a última cartada: dou de mamar novamente, um cocô preso finalmente sai e o bebê é só alegria.
– "Abrrrrrr, arru, mamam...."
Puro sorriso vendo as luzes do amanhecer, procurando assunto como se a noite tivesse sido de sono ininterrupto. Ele é tão fofo que acaba me arrancando alguma alegria de volta e um certo alívio porque a cólica chegou ao fim, mas o sono é tanto que a cabeça dói. E sei que em 1 hora no máximo minha filha acorda. E que em duas horas eu preciso voltar a funcionar: textos esperam leitura, tenho um almoço de trabalho no qual preciso responder perguntas com alguma coerência. Eu tenho de voltar a ser uma pessoa, embora me sinta um trapo. Minha fantasia é mergulhar na escuridão do quarto e ali ficar, imóvel, por uns 2 dias. Licenças-maternidade deveriam durar até que o filho engatasse uma noite inteira de sono...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para mim, "com penso", por favor

Uma conhecida contou que, quando conversava para contratar uma empregada e acabou de explicar quais eram os afazeres da casa, a moça perguntou:
– Mas Dona, aqui é "com penso" ou "sem penso"? Porque o preço é diferente...

Diante da cara de intriga da patroa, a moça explicou:

– Se a senhora é quem vai me dizer o que tem de cozinhar, como passar, onde limpar e tal, é mais barato. Agora, se eu é que tenho de pensar no que precisa fazer, aí é "com penso". Fica mais caro.

Além de amar essa história de "com penso" ou "sem penso", seja ela verdade ou lenda, a anedota me ajudou tremendamente a entender – e a explicar – ao meu marido que raios eu pretendia com relação à divisão das tarefas da casa e à criação dos filhos.
Eu descobri que queria – mais do que queria, precisava desesperadamente! – de um marido "com penso" depois que nossa primeira filha nasceu. Que dirá agora com dois!!
E não é que o Ricardo não ajudasse. Ele dizia, por exemplo:

– "Faz a lista do supermercado que eu vou e compro". Ou: "se você está se sentindo sobrecarregada, me diz o que quer que eu faça, que eu faço".

No início, não entendia porque essa operação não fechava para mim. Acontece que quando eu me dava conta pedia, mas continuava me sentindo sobrecarregada, levando o peso de tocar uma casa, o meu trabalho e a nossa filha. E o que pesava não eram necessariamente as tarefas (fazer a lista, escovar os dentes dela, botar dinheiro em casa), mas sim a responsabilidade, o planejamento para que todas essas coisas acontecessem. Alguém aí já ouviu uma mulher dizer:

– "Eu ajudo o meu marido na criação dos nossos filhos?"

Pois um marido que "ajuda" é a coisa mais comum. E é até louvável! Mas, vocês me desculpem, "ajudar" é "sem penso". Não é assumir a responsabilidade, perceber o que precisa ser feito, assumir a tarefa a seguir. Eu descobri que fazer a lista do supermercado ou saber avaliar o que é necessário e pedir ajuda significava que eu continuava a fazer metade da tarefa: todo o "penso" era por minha conta! O outro ia apenas executar. A moça lá tinha toda a razão: desse jeito é bem mais fácil!!

É claro que ter um marido "com penso" implica em abrir mão de que as coisas sejam feitas exatamente do seu jeito. E isso nem sempre é fácil para nós, mulheres. Você quer dividir tarefas, quer que seu marido troque fraldas, vista, dê banho ou distraia as crianças? Tudo bem. Mas ele fará isso do jeito dele. E não dá para ir lá e ficar fiscalizando, né? Ou você vai continuar sem largar a tarefa (além de ganhar oficialmente a carteirinha de insuportável).

Se a roupinha ficou uma parte de cima listrada com uma de baixo de bolinhas ou se ele não esfregou atrás da orelha como você fazia, é hora de tomar uma decisão: ou você ganha um tempo para você mesma enquanto seu marido cuida de certas coisas e aceita que ele é outra pessoa e executará as tarefas de outra maneira ou continua carregando o mundo nas costas e fazendo tudo, tão per-fei-ta-men-te quanto só você mesma sabe fazer.

Em casa, funcionou lindamente o modelo "com penso". E cada vez que eu me pego na tentação de querer arrumar alguma coisinha que já foi realizada PARO TUDO. E então respiro, me contenho a tempo, e repito para mim mesma:

– Dona, afinal, a senhora quer "com penso" ou "sem penso"?

Escolher implica sempre em abrir mão de algo. E eu me sinto bem melhor abrindo mão da minha pseudo perfeição em prol da responsabilidade compartilhada. Pra mim, "com penso", compensa mil vezes mais!! Para você, o que serve?

sábado, 25 de abril de 2009

Vai com calma, filho

O André vai fazer 4 meses. Emergimos daquele limbo sonolento dos recém-nascidos, de cólicas, olhares perdidos, desentendimento.
Ele virou um bebê: portentosas bochechas, olhar curioso e atento, sorrisos... Enfim comunicação! Temos 7,370 quilos, 65 centímetros, 2 dentes embaixo, gargalhadas e rolamentos para um lado e outro, todos os dias.
E eu nem sei dizer quando foi que tudo se transformou! Que dia ele sorriu mesmo? Quando rolou pela primeira vez? Parece que a gente pisca e eles andam 5 casas!


sexta-feira, 10 de abril de 2009

Drogas pesadas

Por que será que a gente rodeia os bebês com bichos? Elefantes azuis de pelúcia; vacas coloridinhas que fazem "Muuu", mas têm um tamanho diminuto se comparadas a uma de verdade; coelhos de todo tipo; ursos e mais ursos. Será que é para reforçar que é a esse reino que pertencemos? Animal?
Não consigo parar de pensar que ser bebê deve representar algo similar – ou ainda mais lisérgico – do que uma viagem de ácido. Ou do que eu imagino que seja uma viagem de ácido, porque nunca tomei um.
Já pensou na enxurrada de cores, sons, sabores e movimentos novos que eles experimentam a cada momento? Sendo levantados, virados, trocados, com um monte de gente falando fininho, fazendo macaquices, mostrando objetos, ligando aparelhos, emitindo sons. E ainda essa bicharada toda em volta ...
Não à toa eles precisam dar umas pausas para dormir desse mundo!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Não dá para ser tudo, ao menos por enquanto

– "Puxa, estou com saudades de você!"
É o que diz o meu marido, quando temos um respiro entre fraldas, mamadas, banhos e afazeres de todo tipo.
Quer saber? Até eu estou com saudades de mim!
Um recém nascido demanda tempo, dedicação, esforço físico e uma atenção enorme para se tentar adivinhar o que o incomoda, o que ele prefere. São uma série de ajustes que vão acontecendo devagar entre mãe e filho. Só que, enquanto isso, o mundo não pára. Seu marido continua existindo e tem saudade, a lavadora de roupas às vezes quebra, a campainha toca...
Nesses momentos, a gente por vezes se perde, o casal se perde. Dar conta de colocar uma roupa e parecer um ser humano – e não um zumbi de pijama – já parece um ganho.
Como? Disseram que você era capaz de ser mãe, companheira, amante e ainda dar uma ligadinha para saber a quantas anda tudo lá no trabalho?
É mentira!!
Não dá para ser tudo, pelo menos não agora.
Mas isso não quer dizer que você tem de desistir da sua vida, do seu companheiro, de voltar a trabalhar. É preciso abrir espaço aos poucos: na casa, na rotina – e sobretudo na mente. Ir campeando e roubar um pouquinho de tempo ali e outro aqui para resgatar o que é importante para você – e para o casal.
Peça ao seu marido para ter paciência, mas peça também para ele não desistir de querer "roubar" você do mundo dos bebês. Essa ajuda é importantíssima para re-estabelecer o equilíbrio e a gente se "trazer de volta".

segunda-feira, 30 de março de 2009

Cólicas: a vida no portal da agonia

Minha filha Ana teve algumas cólicas leves, que começavam principalmente ao cair da tarde. Nada que um pouco de funchicórea, massagens na barriguinha e alguma paciência não fossem capazes de acalmar.
Agora, estou às voltas com as cólicas do André. Por momentos ele dorme, pacificamente, e, do nada, solta um grito pavoroso: lá vem mais uma. Parece impossível que caiba tanta dor dentro de alguém tão pequeno...
Ele se contorce, chuta, seus olhos reviram em pânico, a barriga tensa. Ficamos, impotentes, cada um numa das margens da dor. Tudo o que posso fazer é aninhá-lo de encontro ao meu corpo e repetir estupidamente ao seu ouvido:
– "Calma, vai passar..."
Até que algo dentro dele afrouxa misteriosamente e um suspiro traz distensão e enfim... alívio.
Já parei de tomar leite de vaca (por recomendação do pediatra, já que as proteínas do leite podem irritar o estômago do bebê), parei de tomar suco de limão e comer frutas ácidas (por pura simpatia, a faxineira disse que provocavam cólicas). Chocolate, feijão e batata doce, nem pensar. Tô naquele estado: o que as pessoas dizem, vou fazendo. Vai que ajuda? Daqui a pouco viro faquir.
Porque chega uma hora em que você apela. É uma terrível frustração ver o pequeno se debatendo, em agonia. Fora a culpa (será que foi aquela mordida num chocolate? O suco que tomei? Que raios eu fiz para matar o meu filho de cólica, meu Deus?)
Tentamos vários remédios e até importamos um natueba dos Estados Unidos (gripe water). Por vezes funciona, por vezes nada parece adiantar. Depois de um certo tempo segurando o bebê que grita, bate um calor, um desespero. Mais um pouco e você já não sabe o que fazer: deu funchicórea, fez massagem, tentou acalmar, sacodiu, passeou pela casa, apelou pro tilenol e está quase chorando junto ou por vezes – sejamos honestas – querendo jogar fora aquela criaturinha que urra bem na cavidade da sua orelha...
Essa é a hora de trocar de braços. Se chegar nesse nível de exasperação, não duvide: entregue o bebê ao pai, à sogra, à mãe, a qualquer pessoa que esteja um pouco mais lúcida e descansada. Pode operar verdadeiros milagres. O bebê deixa de sentir a sua tensão, recobra alguma calma e... mágica! Consegue acalmar também...

terça-feira, 24 de março de 2009

Fashion baby

4h20 da manhã. Quarto na penumbra. E você ali, completamente zumbi, tentando fazer as coisas devagar para o mais velho não acordar e o bebê não chorar. E perdendo a luta feio para o décimo sétimo botão de pressão da roupinha...
Senhores fabricantes de roupas de bebês: mais compaixão, por favor! Será que não tem um jeito de não precisar enfiar os bodys pela cabeça, de não ter de encaixar tanto botãozinho numa matemática absurda? É de noite, plena noite, e a fralda vaza...
Já ouviram falar em velcro? Quem sabe tirinhas? Não é possível deixar barriguinhas quentes sem tanto dilema? Um kimono talvez? Encaixa uma fitinha num buraco, amarra (ou prende com velcro) e... pronto!
Qualquer segundo ganho na madrugada vale rubis e diamantes, vale a gratidão de mulheres cansadas, com olheiras, vale melhor humor e bebês mais bem cuidados.
Vou começar a campanha: abaixo os botões de pressão! Ou será que é só a minha coordenação motora que durante a noite vai para o saco?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Bebês não são seres razoáveis

Primeiro um grunhidinho e aí você pensa: “Ah, ele está acordando...”
Mas o próximo som já é um grito lancinante, como se ele estivesse tendo a pele arrancada sem anestesia!! Nada de se espreguiçar um pouquinho, dar um tempo... A noção de “calma” e o som da frase “espera um minutinho” não fazem nenhum sentido em sua pequena vida. Enquanto você está abrindo uns 3 ou 4 botões para dar de mamar, o bebê já se desesperou como se o apocalipse batesse à porta.
De fato, bebês não são seres razoáveis. Suas emoções e sensações se manifestam em estado puro: vão do êxtase relaxado depois da mamada à agonia das cólicas, passando pela sofreguidão quando a fome bate e aquele bocão fica aberto, procurando, em desespero.
E não é simples lidar com emoções em estado puro. Mas só assim eles conseguem se defender. Se não gritassem a plenos pulmões, como alguém os recolheria do berço e lhes daria o que precisam? Se seu estrondo não incomodasse durante a madrugada, como fariam uma mãe sonolenta depois da terceira mamada acordar para uma quarta?
É por isso que esses pequenos seres têm uma força incrível à disposição: berrar como se não houvesse amanhã. Quem falou que vida de bebê era fácil?

sábado, 7 de março de 2009

A mulher-polvo

O braço esquerdo enlaça o bebê de encontro ao meu corpo. O direito segura o frasco. A boca gira a tampinha. Um pouco de malabarismo e... voilá! Consigo abrir o vidro de remédio para cólicas sozinha e puxar o líquido para dentro da seringa.
Desde que o André nasceu, meus braços, mãos, pés e joelhos têm sido usados com muito mais criatividade. Fruto apenas de necessidade, não que eu esteja treinando para ser contorcionista...
Mas se ver sozinha, às voltas com um bebê que chora e uma menina de 4 anos que pede coisas, exige adaptações corporais nunca dantes exploradas.
Descobri que meus braços se multiplicam. A mulher-polvo aqui consegue ler um livrinho (virando as páginas!) e embalar o bebê. Com a ajuda dos pés, então, dá para trocar uma fralda, abrir o cesto do lixo e ainda falar ao telefone ao mesmo tempo!
Não que eu faça isso o dia inteiro, nem que pretenda enlouquecer de vez. Mas quem nunca se viu amamentando um, dando bronca no mais velho ao mesmo tempo e sem saber o que fazer com a campainha que toca, que atire o primeiro tentáculo!

terça-feira, 3 de março de 2009

A segunda vez, quanta diferença! Parte II

Se a primeira gravidez foi mais curtida e menos conturbada do que a segunda (afinal, você tinha todo o tempo do mundo para a barriga), trago uma ótima notícia para as mães de segunda viagem: o nascimento e os primeiros tempos com o bebê são uma delícia com o segundo filho!!
Sabe aquela ansiedade: estou segurando ele direito? Ele fez xixi suficiente? A mamada está correta? Desapareceu. Você já sabe que é capaz de trocar uma fralda, aguentar um choro, dar banho. E tudo vira um enorme prazer. Aquele cheirinho de bebê te esperando no quarto ao lado, as caretas e sorrisinhos que fazem, aquela bolinha se aninhando no seu peito, satisfeita, depois de mamar.
Me lembrava desses primeiros tempos de peitos cheios, mamadas irregulares e noites mal dormidas com um certo medo. Dá um trabalho louco, mas o fato é que estou curtindo demais ter um outro bebê. Tudo flui mais relaxado, o que é supérfluo não importa. E os dias são de um enorme, intenso amor por essa nova família que se configura. É muito diferente estar a 4 do que a 3! Agora sim formamos uma turma. E surgiu uma divisão que antes inexistia: "os adultos" e "as crianças". Os papéis novamente mudam. Sutilmente tudo se acomoda. E para muito, muito melhor.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Babás, enfermeiras e opiniões alheias

– "São 18 horas e este menino ainda não tomou banho"?

– "Deixa eu trocar a fralda, que a senhora não está sabendo..."

– "Não pode sair com um bebê desse tamanho, que absurdo!"

Sabe o que? MUITO CUIDADO com as opiniões alheias. Às vezes é um parente que nunca atrasou o banho dos filhos e tem a intenção de ajudar. Às vezes uma babá ou "enfermeira" (essas são as piores!!) que não podem jamais perder seu lugar de autoridade. Às vezes um vizinho ou desconhecido que se dá ao direito de falar alto o que deveria guardar para si.
Cada filho é um filho, e cada família, uma família. E cabe a cada mãe, com cada filho, em cada família, ajeitar as coisas da melhor maneira possível. Ninguém quer errar. E toda mãe tem O DIREITO de um tempo para aprender.
Portanto, seja mãe de primeira ou de décima viagem, eis o mandamento principal: dê-se um período para conhecer o seu bebê e permita-se exercer a maternidade. É só sendo mãe, na lida do cotidiano, entre sonos, sonhos, fraldas e mijadas fora da fralda que tudo se ajeita, que a gente se descobre e se entende.
Espere ao menos 1 mês antes de se sentir inadequada e sair registrando como fracassos pessoais o que não passa de opiniões alheias. Na sua casa o banho é mais tarde? Você e seu bebê estão felizes com isso? OK, não é contra a lei, certo?
Sua fralda vaza e a da enfermeira sai sempre limpinha? Tá bom, mas você é a mãe e precisa aprender. Ou a enfermeira foi contratada por 24 horas para o resto da existência?
Eu mesma já ouvi, nos hospital, a seguinte frase:
– "Aproveita que aqui tem enfermeiras para cuidar do seu filho e descansa..."
Ué, mas eu tive um filho porque quis, gosto de ficar com ele, quero cuidar dele e aprender a me comunicar com o meu bebê... foi o que pensei.
E olha, ainda não vi mãe que assuma os cuidados do filho e, já no segundo mês, não se sinta muito mais segura e diga com naturalidade:
– Ah, esse choro é porque ele está tentando fazer cocô...

Oba! Nada como estar de volta ao velho jeans

Faz duas semanas que o André nasceu. Minhas calças de grávida (que se resumem a 2) não me servem mais. Minhas roupas normais ainda não entram. Engordei 13 quilos na primeira gravidez e 16 nesta segunda. A barriga já diminuiu bem, mas ainda está arredondada e os quadris um pouco mais largos do que o normal. Fora aquela listra marrom que cruza o abdome de alto a baixo e, no meu caso, sempre demora meses para sumir...
Mas então, na terceira semana, me lembro que tenho um jeans de cintura baixa, que ficava um pouco larguinho...
Será?
Sim! Ele serve! Esta justo, é verdade. Mas que alento voltar ao velho jeans!!
Na quarta semana, outras calças vão entrando e tenho o prazer de redescobrir meu guarda-roupas. Não ligo muito para moda nem sou vaidosa, mas acabo me sentindo como naqueles programas em que a pessoa ganha um dinheiro para comprar várias peças de roupa. Com a diferença de que as minhas eu já tinha comprado antes. E esquecido!
Quinta semana e... pronto: estou de retorno ao mundo das pessoas. Agora tenho um corpo de não grávida e um bebê no colo. Abandonei aquele limbo composto por bebê no colo e barriga de 3 ou 4 meses que fica nas primeiras semanas após o parto. Que felicidade!

Amamentação

Algumas mulheres colocam o bebê no peito e... mágica! Eles saem mamando, sem maiores dificuldades. Como se fosse a coisa mais natural e instintiva do mundo. Deve ser, mas o fato é que nós perdemos vários dos instintos e nem para todo mundo essa mágica acontece.
Na minha primeira gravidez, o bico do seios parecia pequeno, não tão protuberante, minha filha não tinha uma pega tão boa e lá fomos nós, bem aos tropeços, tentar aprender de que se tratava mamar e dar de mamar.
Fora que, quando o leite desceu, desceu por demais. Meu corpo parecia dizer: "Venham! Estou preparado para amamentar 5 crianças!!" Mas o fato é que eu havia tido apenas uma... Então os bicos racharam e, por um bom tempo, dar de mamar foi mais uma dor do que um prazer.
Até a tal da oferta e da demanda se regularizarem o processo demorou e, mesmo quando minha filha esticava uma dormidinha de noite, eu tinha de acordar e tirar o excesso de leite, para não correr o risco de acordar com os seios todos encaroçados.
Passei algumas madrugadas na cozinha "me ordenhando" sozinha. O negócio era não perder o bom humor. Eu levantava feito zumbi e dizia a mim mesma: "lá vamos nós, tirar o leite das pedras – literalmente..."
Dessa vez, surpresa! Os seios não aprendem. Eles novamente voltaram a se encher de leite para alimentar um batalhão. Mas o meu filho mama bastante e, por sorte, conseguimos estabelecer um jeito melhor de pegar no peito. Acho que calma e alguma experiência ajudaram. Tive umas poucas madrugadas de ordenha solitária, mas tudo vem se regularizando mais rápido.
Só que acho que pouco se conversa sobre amamentação, para além das vantagens que traz para o bebê e a mãe. E quando a mágica não acontece? O que fazer? O bebê vem, o leite desce aos borbotões (ou não), tudo dá errado e aí você pensa: "Mas porque ninguém me avisou que a coisa não era automática, garantida?" "O que eu preciso saber?" "O que estou fazendo de errado?"
E até você chegar à informação e resolver a questão, perdeu-se um tempo precioso, bicos dos seios racharam e rolou muita ansiedade. Quando algo falha no processo, muitas vezes nos sentimos impotentes, péssimas mães e por aí vai. Também, para sentir um pouco de culpa, as mães nasceram sozinhas, né? É nossa especialidade!
Portanto, se com você a mágica não funcionar, procure ajuda o mais rápido possível e, principalmente, dê tempo ao tempo, sem tanta cobrança.
Eis aqui alguns endereços e dicas que podem servir:
http://www.aleitamento.com
http://www.matrice.blogger.com.br
http://www.amigasdopeito.org.br/
* Frio faz diminuir a produção de leite, e quente, aumentar. Portanto, se você produz demais e os seios incham, faça com uma frada compressas com água fria, da geladeira, depois de amamentar ou sempre que sentir necessidade. Se a intenção é estimular e produzir mais leite, banhos quentes e compressas mornas ajudam.
* Usar aquelas conchas de silicone, desde o dia do nascimento, alivia quem, como eu, produz em grande quantidade. As conchas vão pressionando e retirando o excesso de leite, além de ir formando uma área mais macia ao redor do bico.
* Pomadas de lanolina (lancinol) ajudam a prevenir e curar rachaduras e machucados nos bicos. Se a situação ficar grave, há outros remédios que podem ser receitados por seu obstetra ou pelo pediatra do seu filho. Peça logo.
*Solicite às enfermeiras do hospital, ao pediatra ou ao obstetra para mostrar e ensinar a pega correta. E não tenha receio de – gentilmente, introduzindo um dedo na boca do bebê – retirar o bico do seu peito se a pega não for boa. Se filho vai chorar, claro, porque quer continuar mamando. Mas não adianta mamar agora, machucar seu peito e depois você não conseguir mais dar. Tente insistir até que ele e você fiquem numa posição confortável, sem dor.
* Quando há excesso e os seios começam a formar caroços de leite acumulado, não deixe essas pedras aumentarem, massageie o seio em direção ao bico e tente ir amaciando e desfazendo esses caroços.
* Sol ou a luz de uma lâmpada (normal, de abajur) ajudam a cicatrizar seios feridos e fortalecê-los. Evite o sol do meio dia. Se usar a lâmpada, deixe o seio a pelo menos 1 palmo de distância, para não queimar. Dez minutos já ajudam.
* Comer bem, descansar e não se estressar garantem uma boa produção de leite. Isso nós todas já sabemos... Difícil é arrumar um tempinho pra comer e descansar, nenão? Só não pense que todas as outras mães são um poço de tranquilidade e você é a única neurótica que não tem um segundo: estamos todas na mesma situação!

De centro do universo a última das moicanas

Que a gravidez leva a mulher a extremos, todas sabemos. Uma hora você está irritada como na pior das TPMs, quase latindo, e outra chorando enternecida porque passou um comercial de fraldas ou porque seu colega fez um comentário carinhoso. Mas tudo bem, quando a gravidez se estabiliza, isso tende a passar.

Mas a vivência dos extremos atinge seu climax quando o bebê nasce. Aí, você passa de centro das atenções a última das moicanas. Explico: durante a gravidez todo mundo quer saber, curte a barriga, se interessa pela sua vida e a do bebê, faz gentilezas, protege, dá lugar no ônibus. Uma beleza. Somos as rainhas da criação.

Então, o bebê finalmente nasce e você vira um ser totalmente dispensável. O mundo (e você incluída) só tem olhos para seu filho ou filha. Para piorar, sua barriga está murcha, no meio do caminho entre o que era na gravidez e o que foi um dia; seu cabelo não recebe corte ou tinta há muuuuitos meses, seu peito pinga leite e seu papo não varia:

– "Tal hora fez cocô, tal hora mamou, que raios ele quer, por que chora?"

Fatalmente, sua cabeça indica que você vai passar o resto da existência contando o tempo de 3 em 3 horas ou entre mamada e mamada, sem espaço para mais nada a não ser mal dar conta daquele serzinho que invadiu o pedaço e tomou a vida de todos de assalto.

Repita comigo: calma, isso vai passar!! Em geral, em no máximo 2 meses o bebê entra numa rotina, aos poucos ele vai ficando mais autônomo, ganhando independência e, acredite: um dia você vai entender por que ele chora, vai parar de pingar leite por aí, ainda vai ler um livro inteiro, conseguirá ir ao cinema e será capaz de ter uma conversa de adultos. Pode apostar. Eu estou só aguardando a minha vez! E, enquanto isso, curtindo cada uma das dobrinhas do gordo comilão que baixou aqui em casa para bagunçar o coreto.

Dê-se a chance de virar bicho!

Queria, em primeiro lugar, agradecer a todos pelos votos de saúde e felicidades para minha família. E também dizer que fiquei surpresa. O adjetivo mais usado nos comentários sobre o relato de parto do André foi "coragem". Engraçado, nunca me considerei uma pessoa particularmente corajosa. Antes de decidir algo, eu costumo ruminar bastante o assunto, pesar prós e contras, ficar com dúvidas. Vide os posts anteriores ("Em casa ou no hospital?"; " E o primeiro, vai para onde?").

Também não sou de grandes arroubos, nem costumo desafiar regras ou padrões. Na verdade, me acho bem normalzinha... A decisão de ter o André em casa, sem anestesia, não foi por bravura ou coragem, mas porque sinceramente achei que seria o mais confortável, o melhor pra mim.

E tendo agora passado pela experiência de um parto no hospital, com anestesia, e outro em casa, natural, acredito firmemente que parir é uma questão de entrega. Quanto mais você embarca e deixa as coisas acontecerem, em vez de tentar ficar controlando o processo ou lutando contra a dor, melhor a coisa flui. De novo, voltamos ao começo destes escritos: estar grávida, parir, criar filhos nos tira da zona de conforto que conhecemos, arranca de nossas vidas a ilusão de que temos tudo calculado. E quanto mais você consegue conviver com a idéia de deixar-se levar, mais leve tudo acontece.

Estar no hospital ou em casa faz diferença pelo conforto: em casa você fica mais à vontade, faz as coisas do seu jeito, no hospital há normas a seguir, pessoas desconhecidas. Mas o que acredito que fez mesmo diferença entre o primeiro e o segundo parto foi não tomar anestesia. A anestesia corta o processo, como se tirasse um plug da tomada: seu corpo continua ali, parindo, mas sua mente fica desconectada, passa a ficar ligada no que acontece em volta, e não no que acontece dentro.

Não vou mentir e dizer que não senti dor: senti, e muita. Parir dói. Mas é uma dor pela qual conseguimos passar. São ondas que você sente chegando, crescendo e diminuindo. Cada uma começa, chega ao ápice e termina, deixando um intervalo calmo até a próxima se formar e se espatifar novamente na praia. Mas depois que você passa por esse oceano de dor, o que fica é uma energia do tamanho do mar. A sensação de um poder transformador e uma ligação com o bebê que nenhuma palavra explica. Talvez "visceral" chegue perto. Sabe o que? Vale a pena virar bicho – ao menos por uma vez na vida!

O André nasceu!!

Depois de 41 semanas, 3 dias e 1 alarme falso no sábado anterior, o André finalmente saiu do barrigão.
Ele se fez esperar, mas, quando resolveu vir, nada no mundo o impediria. Lembra aquele papo de muita respiração, longas contrações e sensação de jacaré no pântano que tive no meu primeiro parto? Pois nada disso se repetiu.
Passei quase 1 semana com contrações indolores, porém fortes, que vinham sem muita regularidade e não eram consideradas trabalho de parto efetivo. Também tive, por vários dias, 3 dedos de dilatação. Mas nada acontecia.
No domingo 7/12, fui ao hospital para fazer um ultrassom, olhar o liquido amniótico e realizar uma cardiotocografia – exame que monitora os batimentos cardíacos do bebê e as oscilações deles durante as contrações. Tudo estava bem: liquido claro, em abundancia, bebê firme e forte, virado para baixo, ainda sem encaixar.
A Dra. Andrea, minha médica, fez um exame de toque e constatou os mesmos 3 cm de dilatação. Voltamos tranquilos. Depois do ultrassom no hospital, porém, eu tinha uma nova certeza: queria ter meu filho em casa mesmo. O tratamento no hospital, embora correto, está sempre em busca de um problema:
–– "Por que vocês estão fazendo ultrassom?" Perguntou o médico que me atendeu, ao começar o exame
–- "Para ver a quantidade de líquido amniótico", Respondi
–- "Qual é o problema?" Insistiu ele
–- "Nenhum. Só estamos monitorando a quantidade de líquido, porque já estou com 41 semanas e 3 dias"...
–- "E seu médico ainda não indicou uma cesárea?" Foi a resposta, espantada...
Assim que ele disse que havia líquido em quantidade suficiente, saímos correndo dali. Eu não queria ter o meu filho em um lugar onde nascer parecia sempre um risco, um potencial problema.
Continuei tendo contrações irregulares por toda a tarde. Desde as 17hs, passei a contá-las e davam 10, 12 em uma hora, mas nunca as tais 14 que indicam o "franco trabalho de parto". Algumas eram inócuas, outras, um tanto doloridas. Quando vinha uma mais doída eu respirava e dizia: “pode vir, meu filho, pode nascer”.
Fiquei nessas até as 21hs. E nada do "franco trabalho de parto". Achando que seria mais um dia de espera sem resultados, pedimos uma pizza. O Ricardo, meu marido, estava terminando de pagar o motoboy quando eu senti uma contração bem forte, e em seguida outra.
–- Liga para a AnaCris (minha doula), pedi.
Na terceira contração: “Pushhhh!!!!” a bolsa estourou. E, dali em diante, eu fui tomada por uma força indescritível. Era algo vulcânico, tão imperativo que não restava se não entregar-se e atravessar aquele caminho. Como se uma corrente contra a qual não adianta remar me levasse numa corredeira.
Fui para debaixo do chuveiro e tive mais umas 3 contrações fortes. Nisso, a AnaCris chegou e eu percebi uma intensa movimentação acontecendo: ela e o Ricardo preparavam toalhas, material, iam e vinham.
Senti vontade de ir ao banheiro. A AnaCris parou do meu lado e disse:
–– "Você já está no expulsivo ... não quer ir para a cama?"
Não conseguia acreditar nisso. Na minha cabeça ainda faltava muito. Eu nem tinha entrado no tal "franco trabalho de parto" e já estava no expulsivo? A questnao é que me sentia incapaz de me levantar dali e andar até a cama. Nesse momento, um puxo enorme empurrou minha barriga com toda a força para baixo, só para não deixar dúvidas: eu estava mesmo no expulsivo.
–- "Vou entrar na banheira", respondi. Era o único lugar a um passo de mim...
A AnaCris achou que não daria tempo de enxê-la de água. Mas tudo bem, estava disposta a ter meu filho na banheira vazia mesmo, contanto que não tivesse de me levantar, me pôr ereta e andar.
Deu tempo de enxer. Conforme a água quentinha foi tendo contato com meu corpo, as contrações, muito seguidas, deram uma espaçada e me permitiram respirar melhor.
Doía e a cada uma eu fazia força, não porque eu quisesse ou comandasse o processo: eu era apenas um corpo tomado pela natureza, que me impelia a fazer força. Não havia nada mais a fazer. Gozado que, apesar da dor intensa, em nenhum momento me ocorreu pedir anestesia ou qualquer forma de alívio. Eu não pensava nisso. Só fazia o que tinha de fazer: puxar para baixo.
–– “Já está dando pra ver um cabelinho”, disse Andrea, a médica, que tinha chegado na sequência.
Nessa altura, ela, a AnaCris e o Ricardo me olhavam da beira da banheira. Eu encostada na outra borda. A dra Nina, a pediatra, também havia chegado e via tudo de longe, preparando coisas. Foi então que Andrea disse:
–- "O que é isso, um pé?"
Achei que estivesse brincando e olhei pra ela meio brava: como assim, um pé? Meu bebê estava de cabeça para baixo, ela tinha apalpado e o vimos no ultrassom naquela manhã!!
O pensamento de ter de sair dali e ir para o hospital cruzou minha mente. Mas eu não tinha a menor possibilidade de realizar tal operação!! Eu era um ser fazendo força. Eu era respiração, dor e puxos. A AnaCris colocou a mão e falou:
–– "É o narizinho. Ele está vindo de cara!!"
Em mais uma contração, senti o bebê encaixar já para sair. Na seguinte, parte ficou para dentro e parte saiu. Coloquei a mão e perguntei:
–– “O que é isso que estou sentindo??”
–- "É o rostinho dele", responderam.
Vi o Ricardo aflito e tirei a mão para não enfiar um dedo no olho do meu filho antes mesmo de ele nascer! Então a Andrea explicou:
–– "Carô, nessa posição, o bebê não consegue empurrar e te ajudar a fazer força. Você vai fazer isso sozinha".
Ela estava calma e, com a mesma voz suave de sempre, pediu:
–- "Aproveita para respirar e, na próxima contração, faz uma força bem comprida. Usa toda a contração"
Me concentrei e atendi o pedido, sentindo uma dor intensa... Força e... André estava no meu colo: grandão, inteiro, vivo!
Toda a dor passou. Ele foi limpo com umas fraldinhas aquecidas pela dra. Nina no aquecedor e ficou no meu colo até que o cordão parou de pulsar. Então a dra. Nina o prendeu e perguntou:
–– "Quer cortar?"
Cortei o cordão com uma tesourinha e o André choramingou um pouco. Enquanto eu expulsava a placenta e a dra. Andrea costurava uma laceração que tive (menor do que seria uma episiotomia), a dra. Nina media e observava o bebê. Acordamos a Ana, minha filha de 4 anos, que dormia no quarto ao lado.

Ela viu o irmão ser pesado em uma balancinha que parece uma rede de pano, depois escolheu para ele sua primeira roupa e ajudou a vesti-lo. O bebê veio para o meu colo para sua primeira mamada, e o resto do pessoal foi esquentar e comer a pizza que tinha chegado...

Hoje, a uma semana do parto, os hormônios do esquecimento já começaram a agir. Minha lembrança da dor não é mais tão vívida. Mas ainda lembro de, depois de conseguir fazer ele nascer, olhar para a doula e a médica, na beira da banheira, com uma certa raiva, como se dizendo:

–– Puxa, vocês não fizeram nada! Eu passei por tudo sozinha!!

E não é disso mesmo que a natureza nos tornou capazes? De parir? Agora minha sensação é a de um enorme poder, de auto confiança: eu dei à luz ao meu filho. E adquiri com ele uma conexão enorme, visceral, por vários momentos, quando o tenho nos braços, me sinto um bicho lambendo orgulhosamente a cria.

Sinto também uma enorme gratidão em relação à AnaCris e à Andrea: elas tiveram a sabedoria de me amparar e acompanhar, intervindo somente quando necessário, com a maior delicadeza, e deixando a vida fazer o resto. Fica aqui o meu maior obrigado a elas e ao Ricardo, meu marido, por me incentivar e jamais duvidar das minhas escolhas.

Pressão total

– "Nossa, você veio trabalhar com esse barrigão?";

– "Meu Deus, desse jeito você vai parir no corredor!";


– "E aí, já nasceu"?

A paciência é atributo imprescindível para as grávidas. Principalmente no nono mês. Prepare-se para responder milhões de vezes a essas perguntas. Parece que uma corrente vai se formando em volta da barriga, em um crescendo de ansiedade. Como aquele povo que não agüenta mais esperar num show ou espetáculo e começa a gritar:
– "Começa! Começa!"
Com a gente, a torcida é para nascer logo. E o pior é que a gente se junta ao coro: a barriga pesa, dormir fica difícil e você não vê a hora de conhecer o rosto do seu bebê...
Mas calma. O negócio é ficar zen, apertar o "play" e responder:
– "O bebê vai nascer quando estiver pronto, eu estou bem, fique tranqüilo, não vou ter filho no corredor..."
É normal um bebê demorar entre 40 e 42 semanas para nascer. E é realmente importante dar tempo ao seu filho para ficar pronto! Muitas vezes, o ultrassom erra (há uma porcentagem significativa de erros quanto ao peso) e as contas dos médicos não são assim tão exatas. Então, se as contrações não começaram, se o colo do útero não dilatou, espere. Desde que o bebê esteja bem, a calma é a melhor amiga. Para o seu bem e o dele.
Na última etapa da gravidez, o bebê ganha peso, portanto, mais uns dias na barriga podem fazer a diferença entre um bebê robusto e um bebê mais frágil. E entrar em trabalho de parto – mesmo que o processo termine em uma cesárea, seja por escolha ou por haver algum problema – garante que o bebê já está preparado. Além do mais, o início do trabalho de parto dispara no corpo da mulher hormônios importantíssimos, que ajudam na amamentação e fazem com que o seu corpo volte à forma anterior mais rápido.
Sua mãe liga 4 vezes ao dia para saber se o netinho já está chegando? Respire fundo e aguarde. Ou use o truque de "roubar" uns dias na data provável. Assim, todo mundo só vai esperar o bebê para mais adiante e você terá a paz garantida.

Dimensões

Os homens podem mudar, ao menos de rosto, em poucos dias. Uma barba, um bigode ou costeletas fazem a diferença. Nós (a menos que você encare uma plástica, mas aí são palavras maiores), nos transformamos de modo mais tênue, com o passar do tempo.
A não ser na gravidez. Aí, peitos e barriga entram em uma corrida desenfreada.
Na largada, o peito se lança à frente. Quem já tinha vira uma matrona (meu caso). Quem não, fica bem feliz e experimenta a sensação de usar sutiã, ver a blusa ficar mais altinha... Mas que é estranho perceber o corpo com o qual você conviveu durante 20, 30 anos, mudar repentinamente, isso é.
Para mim, o peito salta e a barriga demora. A partir do quinto, sexto mês é que ela dá jeito, resolve mostrar a que veio e ultrapassa o peitão. Só então você fica realmente grávida, aquela coisa assumida, de poder furar a fila sem medo de alguém duvidar e você ter de mostrar o teste...
A questão é se acostumar ao fato de que você chega aos lugares antes do que chegava. Quem nunca bateu o barrigão na pia por calcular mal? E para entrar no carro? Quem nunca derrubou comida na roupa?
Quando seu cérebro mais ou menos entende a situação, e começa a perceber que os movimentos automáticos (levantar, se aproximar de um lugar, deitar) precisam ser mais calculados do que antes, a situação muda novamente.
Porque então o bebê nasce e a barriga vira aquele poltergeist estranho, vazio, meio molão (calma! vai passar!!). E o peito? Nessa hora ele vai à forra e se enche de leite, atingindo seu ápice na vida. Pronto: de mulheres-barriga viramos de novo mulheres-peito.
Acabou? Que nada! Depois de parar de amamentar, o peito ainda leva um tempo até voltar ao que era. Ou seja: demora para você ser você de novo.
Quer saber? Mentira: depois de ter um filho, você nunca mais vai ser aquela você de novo. Filhos inauguram uma nova versão de nós mesmas.

E o primeiro, vai para onde?

Desculpem, mas aqui vai mais um post da série "dúvidas cruéis que atacam no final": o que eu faço com a minha filha na hora do parto? Se for em casa, seria legal ela estar por aqui e poder participar de alguma forma do nascimento do irmão.

Meu único medo é que ela queira ficar falando comigo e pedindo atenção. Quando ela nasceu, passei boa parte do trabalho de parto enfiada na água morna da banheira, apenas respirando, sem conseguir ver o que acontecia na minha frente. Eu era só respiração e dor, nunca me senti tão bicho: a mente vazia de qualquer pensamento racional, apenas singrando aquele mar de contrações que vinham e passavam, com a AnaCris (que foi minha doula) iluminando o caminho à frente. Podia entrar e sair gente, podiam fazer perguntas, podia haver um terremoto: eu não ia notar. Minha lembrança é a de um jacaré no pântano, totalmente dedicada a fazer o filhote nascer. E só.

Já pensou você nesse estado e uma menininha de 4 anos entrando e querendo perguntar, bater papo, saber da mãe? Claro que meu marido, minha irmã ou alguma das avós poderia ficar com ela. Mas será que ela vai agüentar não estar ali do lado?

Se tiver de ir para o hospital, tudo bem: uma das avós a busca e a leva para lá quando o bebê tiver nascido. Acho que nem deixam menininhas ficarem no hospital enquanto suas mães viram jacarés nas banheiras... Mas que vai ser estranho ela ir dar uma volta com a vovó e voltar com um irmão recém estreado, ah isso vai.

Em casa ou no hospital?

Está chegando a hora e virei um poço de dúvidas: parto em casa ou no hospital? Parir em casa teria a vantagem de que a minha filha poderia estar por perto, ninguém precisaria se deslocar nem dormir fora e eu contaria com toda a liberdade para fazer as coisas do meu jeito.

Nada de preencher ficha, vestir camisolinha, ficar estirada na maca, zanzar por aí de cadeira de rodas. Parir em casa significa caminhar enquanto der vontade, estar confortável, comer e beber o que der, gritar se precisar... Embora no primeiro parto eu tenha ficado muito para dentro, só respirando, quase num transe. Acho que essas mulheres descabeladas, urrando, são mais coisa de novela do que de vida real.

Parir em casa também viria com a dádiva de não haver gente estranha durante o parto. Além de poder ficar com meu bebê o tempo que quiser, do jeito que quiser, sem que ele seja levado para observação, aspiração, medição, pingação de colírio e sei lá quantas manobras mais que fazem no hospital – a maioria bastante inútil.

Tive uma gestação tranquila, sem riscos, e vou ser acompanhada por uma equipe acostumada a fazer partos domiciliares. Viriam à minha casa uma doula, uma enfermeira, a médica obstetra e uma pediatra neonatologista, para prestar os primeiros cuidados ao bebê. Se, no meio do processo, por algum motivo for necessário ir a um hospital, eu vou com a tropa toda.

O pequeno porém que me impede de decidir é o seguinte: se eu quiser tomar anestesia, precisarei ir para o hospital. Como o uso da anestesia pode provocar várias reações e influir no andamento do parto, esse procedimento não é feito em casa. Acontece que só de pensar em, na última hora, quando as contrações já estiverem bem doloridas, abandonar o lugar onde estou, vestir uma roupa e ir sacolejando até o hospital me dá arrepio na espinha.

No meu primeiro parto, o pedaço mais incômodo foi mesmo esse transcurso até o hospital. Encarar os buracos de São Paulo com contrações faz você xingar qualquer prefeito – independentemente do partido.
Mas, será que vou ser capaz de parir sem anestesia? Milhares de mulheres já o fizeram e todas relatam que passaram dor, mas também uma grande sensação de poder e transformação. Tenho ido a vários bate-papos em que mulheres contam como foram seus partos e isso vem me ajudando a tomar a decisão. Mas o martelo não foi batido. Nos próximos posts eu conto...

Avós grávidas

Minha avó sempre foi louca para virar bisavó. Infelizmente, tive filhos mais velha e não deu tempo. Aí, a coisa foi começando a pegar com a minha mãe. A ansiedade por virar avó foi ficando crescente, e nem eu nem a minha irmã tínhamos muita pressa...

Quando finalmente chegou o anúncio da minha primeira gravidez, ela entrou em parafuso! Comprou mil presentes, me entregou um valiosíssimo caderno que ela escrevera enquanto estava grávida de mim e nos meus primeiros anos de vida que guardo feito relíquia, foi fazer aulas de tricô para produzir vários casaquinhos... Um evento.
Até aí, todo mundo feliz. Minha mãe estava contentíssima por virar avó e eu muito satisfeita com esse sentimento. Ela se ocupava com mil coisas e eu lia tudo o que caía nas minhas mãos sobre parto e gravidez. Um dia, ela anunciou mais uma atividade:

– Comecei a fazer um curso de Shantala.

– Shantala, mãe? Aquela massagem para bebês que normalmente se faz depois do banho?

Era isso mesmo. Na hora nem falei nada. Depois, a cabeça começou a girar: "Quando ela vai praticar isso?"; "Por que uma avó vai fazer curso de massagem para bebês?"; "Por que ela não me perguntou se eu achava legal fazer Shantala na minha filha?"; "Será que ela está pensando em vir TODO DIA em casa, dar banho na MINHA filha e depois fazer uma massagem que teoricamente facilita o vínculo de mãe e bebê?"...

Dessa vez, fui eu quem entrou em parafuso. Não queria ser indelicada, mas aquilo passava totalmente dos limites. Incomodava. Era como se ela estivesse se apropriando da minha gravidez. Com todo o tato do mundo, chamei minha mãe para um papo e expus meus sentimentos: eu estava feliz por ela participar e queria tê-la por perto, mas aquela era a minha experiência e eu precisava trilhar e descobrir – em muitos momentos, sozinha – o que seria melhor para o meu bebê. Nesse caminho, certas tarefas – como uma massagem diária –, se fossem acontecer, caberiam a mim. Não foi fácil falar. Mas acho que nesse momento cada uma entendeu o seu papel: eu comecei a ser mãe da minha filha, e ela começou a ser avó.

Toca a arrumar o ninho

Não sei se acontece com todo mundo, mas já ouvi de várias mulheres que, no final da gestação, bate uma necessidade doida de ajeitar tudo para a chegada do bebê. E se trata de algo maior do que simplesmente aprontar o enxoval ou comprar umas coisinhas. Bate uma neura mesmo. Parece que tem até estudo científico, classificado como a "síndrome da arrumação do ninho".

Tal como a passarinha em cujo corpo algum hormônio que a compele a formar o ninho para depositar os ovos é detonado, em nós, mulheres, a coisa atinge diferentes graus. Tem gente que encara reformas na casa, outras pegam mais leve. Eu venho apoquentado meu marido há mais de uma semana querendo consertar tudo o que há para arrumar na casa antes que o bebê chegue.

Claro que para o bebê não vai fazer diferença alguma a trava do portão estar funcionando direito ou o jardim ter sido podado. Mas é incontrolável: bate uma urgência que beira o irracional. Como se uma voz na sua cabeça repetisse: "Tem de estar tudo pronto". Como se depois que o bebê nascesse ninguém pudesse mais se ocupar de nada. Decidi não combater, uma vez que foge ao meu controle. E, enquanto o dia do parto não chega, minha casa tem vivenciado uma peregrinação de chaveiro, eletricista e um constante leva e traz de coisas para consertar, devolver, lavar, ajeitar, pendurar. E você, já arrumou seu ninho? Se ainda não bateu, espere e verás...

Comprei um livro de despedida

Outro dia, resolvi me dar um presente: comprei um livro de despedida. Sei que em breve vou ter um bebê no colo e muita alegria, mas também muito sono. E que ler um livro exigirá uma concentração difícil de alcançar. Até a minha primeira filha completar um ano, mais ou menos, poder sentar e ler durante um bom tempo era uma de minhas saudades.
Quando tentava, a leitura, em vez de avançar, involuía! Eu singrava umas 4 ou 5 páginas e, quando conseguia retomar o livro, mal lembrava do que tinha acontecido. Quem era esse personagem mesmo? Era obrigada a voltar e, assim, um passo adiante e dois para traz, a leitura virava um sacrifício. Desisti.
Sei agora que isso tudo deve voltar a acontecer. Por isso, me dei um livro de presente, para curtir nestes últimos meses. Quando conseguir ler o próximo, haverá dois presentes em minha vida: a volta da leitura e um filho que já ganhou alguma independência.

Essas grandes mulheres

Não conheci minha bisavó. Sei que era uruguaia, muito bondosa, e que se casou com um espanhol bravíssimo, vindo do país basco. Eles tiveram e criaram seis filhas mulheres, uma das quais, minha avó.
Eu cresci ouvindo histórias sobre ela: como protegia as garotas da ira do pai quando ele ficava bravo, como alimentava as galinhas e coelhos que criavam na casa, como ajudava suas seis meninas nos afazeres. Gostava de ouvir as anedotas, mas elas não me tocavam muito, não passavam de curiosidade.
Depois que virei mãe, admiro essa minha bisa terrivelmente. Quase todo dia eu me pergunto: como é que ela fazia para cuidar de seis crianças, com idades próximas umas das outras, e ainda cozinhar, lavar, passar e limpar uma casa inteira??? Me pego fazendo cálculos: com seis filhos, em algum momento um havia acabado de nascer, o outro provavelmente ainda não largara as fraldas (de pano!!) e o terceiro, se largara, devia ainda ser bem pequeno...
Lavar roupas de oito (o casal mais seis filhas), cozinhar para esse batalhão, alimentar animais e ainda sobrar bom humor no final do dia? Tudo bem, ela não tinha um emprego, nem chefe, nem morava numa cidade como São Paulo, em que deslocar-se pode virar uma empreitada hercúlea assim que caem uns pingos de chuva.
Mas quer saber? Minha vida, aos olhos dela, deve ser fichinha! Só uma filha e outro a caminho, um trabalho, um marido (que me ajuda) e uma casa cuja responsabilidade por que funcione não é inteiramente minha. A bisa virou uma grande companhia, com quem eu adoraria poder conversar. Sempre que me pego abotoando o casaco da minha filha, falando de algum assunto de trabalho ao celular e mandando o último email antes de sair, tudo ao mesmo tempo, bem enlouquecida, eu penso: a minha bisa conseguiu!! Como será que ela fez? Idéias e conselhos, por favor, escrevam...

Cadê a chave?

Aqui em casa, quem esquece carteira, perde chave, não sabe onde botou o título de eleitor é sempre o Ricardo, meu marido. Bem... quase sempre. A não ser durante a gravidez.
Parece que quanto mais a barriga avança, menos importância você vai dando a coisas sem importância e mais memória vai perdendo... Outro dia, penei para fazer uma conta simples, tive de voltar a um lugar porque esqueci o que levava na mão e, quando os amigos contaram a piada, fui a última a entender.
Bem, mortais, perdoai as grávidas! A gente pára mesmo de juntar lé com cré. E tem até explicação científica: durante a gravidez, os níveis de progesterona aumentam, deixando o metabolismo mais lento.
Fora que é tanta mudança que acontece do lado de dentro da sua pele que fica difícil acompanhar essas modificações e mais as que rolam do lado de fora. É muita informação.
Mas não se preocupe, viu? Os médicos garantem que depois a gente volta ao normal. Afinal de contas, alguém precisará responder ao filho onde ele deixou o caderno que precisa levar para a escola, lembrar o marido de pagar o telefone que vai vencer e responder para o chefe a quantas anda aquele projeto que ele pediu...
Encare como umas férias: tico e teco deram uma saída, mas voltam já, já...

Irmãos, bah!

A mãe passou os 9 meses de gravidez explicando ao primeiro filho que a barriga dela iria crescer, que depois eles iriam para o hospital, o irmão nasceria e aí eles voltariam para casa, todos juntos. De fato, foi assim que correu. Mas depois de alguns dias em casa, o primogênito disparou:

– "Ô mãe, sua barriga cresceu, a gente foi para o hospital e o irmão nasceu. E agora? Quando ele vai embora?"

Na casa da Carol, uma amiga querida, a pergunta da mais velha, depois de passar alguns dias em casa com a bebê que acabara de nascer foi:

– "Mamãe, afinal de contas, essa bebê serve pra quê?"

Aqui em casa, minha filha oscila entre carinhos na barriga e ataques de fúria, dirigidos principalmente a mim:

– "Que sapato feio, você está toda descabelada, barriguda, esquecida!"

Ela provavelmente está certa. A elegância foi para o brejo faz algum tempo em prol do conforto, e eu ando muito desligada. Ela também não está nada feliz com a idéia de perder a atenção da mãe para um desconhecido e anda com raiva por ser destituída de seu trono de única criança da casa.

– "Você vai gostar mais dele do que de mim..." me disse outro dia, chorando.

Tento explicar que ela vai continuar sendo uma filha querida, a mais velha, que cabe bastante gente em nosso querer e não é preciso escolher qual filho amar mais. Mas a fantasia de uma menina de 4 anos sobre alguém que foi feito juntando duas sementinhas e que vai sair de dentro da barriga pode ser muito mais fértil que a realidade (que, convenhamos, é bem louca também). Outro dia ela me perguntou:

– "Mãe, onde estava o meu irmão no meu aniversário de 2 anos?"

E até eu me surpreendi com a resposta de que "ele ainda não existia". Tem coisa mais maluca do que criar uma existência? Provavelmente não. Nem tão maravilhosa. Assim como é imensamente bom ter irmãos com quem compartilhar a vida.

Eu só tive meios irmãos, e uma irmã "postiça", filha do meu padrasto. Mas vivi uma intensa irmandade e agradeço por cada um deles.
A Ana, minha filha, provavelmente vai descobrir a dádiva de contar com um laço de irmandade algum dia. Mas até lá, eu devo continuar sem saber se o que vem é um abraço ou um:

– "Sai, mãe!"

É menino!!

O Ronaldo, um colega de longa data, bem que tentou. ele ficou me contando sobre as maravilhas de não saber o sexo do bebê. "É a maior surpresa! Uma emoção única no nascimento", dizia.
Ai, Ronaldo, acho que essa experiência eu não vou mais ter. Sempre sinto que, durante os primeiros meses, em boa parte pelo fato de não ter um sexo conhecido, o bebê se torna um ser etéreo, mais distante pra mim. A gente nem sabe como chamá-lo, tudo fica ambíguo: "o bebê", "ela ou ele"...
A partir do momento em que se descobre o sexo, o bebê ganha nome, e o fato de poder nomeá-lo e dirigir-se a ele com o artigo certo: meu filho, minha filha, pra mim, muda as coisas. Ajuda a me aproximar.
Pois bem, desta vez: é menino! O pai ficou contentíssimo (acho que a gente sempre espera, bem lá no fundo, um filho do nosso sexo). E eu estou aqui me perguntando: como vai ser? Na minha família, a mulherada reina, não tenho muitas referências de como criar um menino. Mas sei da enorme responsabilidade: afinal nós, mães de meninos, é que temos a chance de educar os futuros homens por um caminho mais igualitário, menos machista, e entregar a nossas futuras noras maridos colaboradores, bons pais, homens bacanas.
A única que nunca teve dúvidas por aqui foi a Ana, minha filha. Desde o primeiro dia ela falou:
– Oba, que legal, eu vou ganhar um irmão!
Nem precisou de ultrassom...

Como é bom saber que a gente não é o único E.T.!

Engravidar – ou compartilhar uma gravidez, no caso do homem – e criar filhos, abre um mundo novo para quem mergulha nessa experiência. E um mundo bem repleto de dúvidas. Dúvidas sobre a própria gravidez, sobre o parto, sobre amamentação. Que assim seguem, evoluindo junto com a criança (que escola escolher, como agir no caso de uma birra homérica etc).
E, para toda essa nuvem de dúvidas, só tem uma solução: informação. Mas informação não significa apenas comprar livros, revistas ou assistir por horas aos canais que falam de bebês e saúde. Tem uma coisa que produz alívio imediato e não custa nada: conversar com quem está na mesma situação.
Dá um conforto danado saber que nós não somos os únicos poços de dúvidas do planeta. E o seu igual pode ter encontrado uma dica que serve. Ou, na pior das hipóteses, se ninguém tem a resposta, só o fato de falar e procurar uma saída, com mais cabeças pensandoé bem melhor do que remoer dúvida sozinho.
Quando estava no pior momento de minha saga por encontrar um médico (veja o post "Parto Normal – Uma Saga"), fui a um bate papo de futuros pais e mães, no GAMA (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa, www.maternidadeativa.com.br), que promove esse tipo de encontros, mediados por profissionais, aqui em São Paulo. Foi tão bom ver eu e meu marido não éramos os únicos E.T.s com perguntas e discordâncias no pedaço!
Esses grupos de conversa existem em vários lugares do país, funcionam em horários acessíveis mesmo para quem trabalha e são grátis. Se puder, vá dar uma olhadinha! A gente chegou um tanto tímido, um pouco desconfiado, e saiu tagarelando, bem contente. No site www.partodoprincipio.com.br, você encontra, além de relatos de parto e informações úteis, uma lista de Grupos de Apoio em todo o país. Santo remédio.

A segunda vez, quanta diferença!!

Como já estive grávida uma vez, pensei que ia tirar a segunda de letra. Mas os filhos – todos eles, descobri agora – além de vir para nos alegrar, encantar e surpreender, são especialistas em balançar nossas certezas.
Se na primeira gravidez senti um pouco de enjôo, azia e pronto, desta vez eu adquiri vários outros "efeitos colaterais" que constam da lista, como prisão de ventre, falta de ar, congestão nasal, dor lombar... Uma gravidez foi totalmente diferente da outra.
Começa pelo fato de que na primeira você pode dedicar todo o seu tempo extra à barriga: seja lendo sobre gravidez e parto, deitando para sentir o bebê se mexer, comprando enxoval ... Já na segunda, existe uma pessoa no mundo que reclama todo o seu tempo extra – e à qual você quer dedicar ao menos uma boa parte dele: seu primeiro filho.
Então, você troca repouso por uma boa brincadeira. Não carregar peso por oferecer colo até onde sua coluna for capaz. Comprar berço e banheirinha por comprar uma cama para o mais velho. E boa parte do espaço mental que seria dedicado ao bebê, você usa para tentar amenizar o ciúme que o primeiro está sentindo.
No fim das contas, cheguei à conclusão de que por mais que você queira ser uma mãe presente e justa, esse negócio de "tratar os dois filhos igual" é uma grande mentira!!
Porque, assim como fisicamente uma gravidez não é igual à outra, a família na qual o seu primeiro filho nasceu não é igual à que vai acolher o seu segundo filho. Os lugares familiares são outros, o casal é outro. E existe um irmão que já vem no pacote!
Se por um lado seu segundo filho contará com a vantagem de ter uma mãe mais experiente e não uma "mãe recém-nascida", com todas as dúvidas que isso gera, ele terá de dividi-la com sua irmã/ão. Ou seja, vai ganhar uma mãe de segunda mão, descoladinha, porém menos disponível.
No fim, eu me pego recitando o velho mantra: não adianta querer controlar, arrumar muito, preparar, prevenir. O negócio é tentar ser a melhor mãe que eu posso, para ambos, a cada dia.

Doula: que bicho é esse?

A palavra doula vem do grego e quer dizer "mulher que serve". E como serve!! Doulas são profissionais que acompanham todo o trabalho de parto, desde o início, dando apoio físico, emocional e afetivo para a mulher.

Doulas não fazem exames nem atuam clinicamente, a não ser que tenham formação para isso (algumas doulas são também enfermeiras ou obstetrizes). Mas, como se fossem mágicas, elas vão tirando soluções da cartola: uma massagem; a dica de respirar de determinado jeito ou de mudar de posição em certa hora; uma fala calma que guia durante as contrações; uma banheira inflável que se adapta ao box do banheiro e permite que você mergulhe na água quentinha; um espelhinho desses de fazer barba que faz com que você veja a cabecinha do seu filho quase saindo...

Essas mulheres são capazes de truques que nem sua avó saberia! Antigamente, aliás, era comum que a mulher que dava à luz fosse acompanhada e assistida por outras mulheres mais experientes, que já tinham filhos. Mas, conforme o parto foi se hospitalizando e deixando os lares, essa ajuda sumiu. Só que faz toda a diferença!

Hoje, em alguns hospitais públicos, há doulas voluntárias à disposição das parturientes. Para quem vai usar o reembolso do convênio, é possível incluí-las no pacote, como assistentes. Se você aceita um conselho, chame uma doula. Para mim, foi essencial ter a companhia de uma mulher sabida, que ficou comigo desde as primeiras contrações ritmadas, ainda na minha casa, até que peguei o bebê nos braços, no hospital. Ela aliviou minha dor com massagens, tirou minhas dúvidas, garantiu que minhas escolhas fossem respeitadas no hospital e foi uma presença tranqüila e segura, que iluminou o caminho até o nascimento. Sem contar que ainda deu uma de fotógrafa no final. Doulas têm mais utilidades que Bombril!

Para quem quiser saber mais: www.doulas.com.br

Afinal, o que é episiotomia???

Esse nomezinho estranho aí em cima designa uma mini-cirurgia que muitos médicos no Brasil ainda praticam, à qual muitas mulheres que fazem parto normal são submetidas, na maior parte das vezes sem nem saber (ou precisar).
Trata-se de um corte no períneo (engravidar é conhecer nomes estranhos e locais do corpo até então não apresentados). Pois bem, o períneo, muito prazer, é o grupo de músculos que circunda a vagina e vai até o ânus. E a episiotomia é uma incisão feita sobre o períneo para apressar a saída do bebê, aumentando a abertura.
Tudo começou na Irlanda, em 1742, quando um médico, procurando encontrar uma saída para um parto difícil, teve essa idéia. Desde então, hospitais e obstetras pelo mundo todo adotaram a episiotomia como rotina e passaram a usá-la em 80% dos casos, inclusive aqui no Brasil.
Ainda bem que, assim como toda a medicina, a obstetrícia também evoluiu. Foi então que a opinião a respeito desse procedimento, antes considerado benéfico, mudou. Hoje, o American College of Obstetricians and Gynecologists (Academia Americana de Obstetrícia e Ginecologia)* recomenda que a episiotomia não seja feita rotineiramente. Por que?

1. Estudos comprovaram que os bebês passam bem sem a episiotomia, mesmo que o trabalho de parto seja demorado;

2. As mulheres, em boa parte dos casos, conseguem dar passagem ao bebê sem sofrer nenhuma laceração ou corte. Então, para quê cortar a musculatura artificialmente e depois ficar com uma cicatriz que pode infeccionar ou causar hemorragias?

3. Mesmo que o períneo da mulher sofra alguma ruptura durante o parto, em muitos casos elas são menores e menos fundas do que o corte da episiotomia, e podem ser costuradas mais facilmente, evitando a dor da cicatrização da episiotomia;

4. A episiotomia leva, em muitos casos, à incontinência urinária na maturidade, já que o obstetra dificilmente consegue recompor a região como antes.

Conclusão: a episiotomia só é recomendada em cerca de 20% dos casos, quando há necessidade do uso de vácuo ou fórceps, ou quando o períneo é por demais rígido. Para todas as outras mulheres, o ideal é ter paciência, deixar o parto desenrolar-se a seu tempo e só cortar em último caso.
Converse com o seu médico e veja qual é a opinião dele sobre esse assunto. Tem muitos que ainda estão em 1742 (ou que preferem um parto mais rápido). Mas o períneo é seu. E é você quem deve zelar por ele!
Além do mais, sabe o quê? Nascer rápido nem sempre significa nascer melhor.

* Leia matérias publicadas no site www.amigasdoparto.com.br. Há informações sobre episiotomia também nos livros Parto Normal ou Cesárea? O que toda mulher deve saber (e todo homem também), da Editora Unesp; e O que Esperar Quando Você Está Esperando, da Editora Record


Motivos reais e falsos para se fazer uma cesárea

Meu amigo Jota acompanhou sua mulher durante todo o pre natal com a médica ginecologista de confiança dela. A intenção, explicitada pelos pacientes, com a qual a médica parecia concordar, era ter um parto normal.
No final da gestação, com cerca de 38 semanas, porém, a obstetra começou a dizer que achava melhor optar por uma cesárea. Segundo ela, o líquido amniótico estava diminuindo e seria melhor agendar a cirurgia para a semana seguinte.

– "Não dá para monitorar o líquido e esperar um pouco mais?", perguntaram eles.

Segundo a médica, "seria um risco". Apenas quando o casal insistiu em ter uma segunda opinião e fazer mais alguns ultrasons, veio a verdade: a médica iria viajar para um congresso em 2 semanas e, se quisessem fazer o parto com ela, teria de ser uma cesárea, agendada.

Não faltam histórias como essa, em que o médico se aproveita da relação de confiança construída, para, no final, desencorajar a mulher a ter um parto normal. Por isso, para que todo mundo saiba em que momento uma cesárea se faz realmente necessária e quando essa indicação não passa de pretexto, pedi à dra. Andrea de S. Queiroz Campos, ginecologista e obstetra, que listasse tais motivos.

Quando a cesárea não passa de pretexto?

* Se o cordão estiver enrolado no pescoço do bebê. Não importa quantas voltas. É raro que um bebê não tenha volta alguma. Mas o cordão é feito de uma substância gelatinosa, que se adapta a várias formas e continua levando oxigênio ao bebê, mesmo enrolado. Na hora do nascimento, os médicos o desenrolam.

* Se você passou de 40 semanas de gestação. A conta muitas vezes não é exata, por isso, é normal esperar até 42 semanas. Nesse caso, o bebê só deve ser monitorado.

* Se a mulher não entrou em trabalho de parto ou não teve dilatação. Toda mulher entra em trabalho de parto, mais cedo ou mais tarde – desde que não a operem antes. Quanto à falta de dilatação, pode ocorrer por um distúrbio raro no colo do útero (menos de 1% das mulheres o têm), mas, na maioria das vezes, se não dilatou é porque não chegou a hora.

* Se o trabalho de parto está demorado demais. A mulher pode passar vários dias com contrações, sem ter entrado em franco trabalho de parto. Os médicos só consideram trabalho de parto quando a mulher tem mais de 3 cm de dilatação e contrações regulares, cerca de 14 em uma hora. Aí, então, o processo ainda pode levar de 8 até 18 horas.

* Se a mulher tem mais de 35 anos. Não há nenhum motivo clínico que determine uma cesárea apenas pela idade.

* Se a mulher já fez uma cesárea antes. Muitas conseguem partos normais na segunda gestação.

* Se a bacia é estreita (esses casos são raríssimos e, normalmente a pessoa já sabe dessa alteração antes de engravidar, porque o ginecologista a diagnosticou ao fazer exame de toque).

* Se o bebê é grande demais. O peso do bebê revelado na ultrassonografia tem uma margem de erro considerável. Além do mais, mães que geram bebês grandes (com mais de 4,5 quilos), muitas vezes têm bacias flexíveis o suficiente para lhes dar passagem.

* Se a mulher tem verrugas genitais, mioma ou HPV. Isso só se tornará um problema se estiverem obstruindo a passagem do bebe.

* Se for época de Carnaval, reveillon, aniversário do médico...

Quando uma cesárea é necessária e tem de ser agendada?

* Quando a placenta cobre o colo do útero, impedindo a passagem do bebê. Essa doença chama-se Placenta Prévia. O diagnóstico de placenta prévia só é feito a partir da 30 semana da gravidez. Antes disso, placentas que estão baixas podem distanciar-se do colo do útero, conforme ele vai expandindo-se. Nesses casos, a cirurgia é agendada antes de o trabalho de parto começar, para não haver risco de sangramento.

* Em alguns casos de doenças cardíacas, algo bem raro.

* Se a mãe tem herpes genital, com uma lesão ativa até 1 mês antes do parto. Quem tem essa doença precisa comunicar o médico, porque dá para prevenir o aparecimento de lesões tomando remédio durante a gravidez.

* Se o bebe está atravessado no útero e o médico não conseguir ajudá-lo a ficar na posição correta.

* Se a mãe tem Aids com uma carga viral alta ou desconhecida. Nesse caso, a cesárea deve ser agendada. Se a carga viral for indetectável, pode ser parto normal.

Quando uma cesárea pode acontecer, mas só se saberá depois que o trabalho de parto começar?

* Quando a placenta se descola prematuramente, antes do nascimento.

* Quando ocorre desproporção céfalo-pélvica, ou seja, quando a cabeça do bebê é grande demais em relação à abertura que a mãe consegue. Mas esse diagnóstico só pode ser feito depois que todo o processo de dilatação se completa, os 10 centímetros, nunca antes. A desproporção céfalo-pélvica acontece em menos de 5 % das mulheres.

* Quando o cordão penetra no canal de parto antes da cabeça do bebê (prolapso de cordão).

* Quando o bebê apresenta uma redução drástica no fluxo de oxigênio ou nos batimentos cardíacos, algo monitorado com um exame chamado tococardiografia. Isso acontece apenas em torno de 1% dos casos.

Que casos que devem ser discutidos junto com o médico?

* Se foram feitas duas ou mais cesáreas antes.

* Se a mulher tem defeitos na bacia, algo que provavelmente, ela já descobriu antes de engravidar.

* Se o bebê estiver sentado e a mulher já tiver tido parto normal antes.

* Se o bebê estiver frágil demais, se houver algum retardo no seu crescimento.

* Se o parto parar de progredir, se as contrações cessarem ou não forem eficazes para dilatar o colo do útero. Nesse caso, há recursos para estimular o parto, como um hormônio chamado ocitocina.

* Se ocorrerem alterações na circulação do sangue entre a mãe e o bebê.

* Se a mulher tiver pressão alta (acima de 13 x 9). Em muitos casos, pode-se acelerar o parto com o uso de um hormônio chamado ocitocina. Quando a mãe tem pré-eclampsia, doença típica da gravidez que eleva a pressão arterial, o parto também deve acontecer rápido. Dá para evitar a eclâmpsia fazendo um bom pré-natal, se alimentando de modo balanceado e tomando aspirina em casos de risco.

*Andrea de S. Queiroz Campos é ginecologista e obstetra formada pela Universidade de Mogi das Cruzes, fez residência médica em tocoginecologia pelo Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros e pelo Hospital Pérola Byington e atende na Casa Materna e no Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.

Seu médico faz mesmo parto normal?

Muitos médicos dizem que fazem parto normal, que preferem o parto normal, mas, na hora H, acabam convencendo a paciente por uma cesárea. Outros realmente fazem parto normal, mas é de um jeito tão cheio de intervenções que o torna uma experiência dolorida demais: a paciente tem de ficar deitada de barriga para cima o tempo todo numa maca; aplicam uma substância que acelera as contrações mas as deixa mais doloridas, cortam o períneo sem necessidade, etc. Se você quer fugir disso, tente fazer algumas perguntas ao seu médico, para ter uma idéia da postura dele com relação ao parto normal. Acredite: nem todos estão dispostos a fazer um, mas poucos vão dizer isso claramente.

1. O que você acha melhor: parto normal ou cesárea? Por que você faria uma cesárea?

Deixe-o falar. Alguns revelam logo sua opção por cesárea. Ao menos é mais honesto do que dizer que vão fazer um parto normal e depois inventar uma desculpa. Então você pode decidir se isso serve ou não para você. Se não ficar satisfeita com a resposta, pergunte também para a secretária qual é a quantidade de partos normais e de cesáreas no consultório. Conversar com outras pacientes na sala de espera também ajuda.

2. Quantos partos normais você fez este ano? Quanto tempo duraram?

Se o médico souber dizer quantos, e se, pelo menos em algum caso, ele esperou o parto acontecer, mesmo que demorado, é bom sinal. Outra forma de checar isso é ver se, ao longo dos vários meses do pre-natal, ele desmarca alguma consulta por estar acompanhando um parto. Tudo bem que pode ser incômodo, mas é uma garantia de que ele faz mesmo parto normal, algo que não acontece com hora marcada!

3. Quanto tempo você espera depois de completar 40 semanas?

Se não houver nenhuma tolerância, desconfie. É normal que os bebês demorem até 42 semanas para nascer.

4. O que acontece na hora do parto, que procedimentos você usa?

Alguns médicos rompem a bolsa ou aplicam uma substância chamada ocitocina para acelerar as contrações logo no início do trabalho de parto. Muitos fazem, de rotina, um corte no períneo (episiotomia), sem avaliar se isso é realmente necessário (vou falar mais em outro post). Essas são indicações de que o profissional não tem paciência para esperar o parto desenvolver-se normalmente, o que pode demorar até 18 horas.

5. Vou poder escolher a posição na qual me sentir mais confortável?

Ficar o tempo todo deitada, com as pernas para o alto, torna tudo bem mais dolorido. O peso do útero comprime a veia cava, localizada nas costas, o que pode provocar falta de ar para mãe e de oxigenação para o bebê. Cada mulher se sente melhor de um jeito: algumas andando, outras sentadas, de cócoras ou de quatro durante as contrações. A opção deve ser sua, não do médico.

6. Eu gostaria de saber mais, de ler e de fazer um plano de parto, dizendo como gostaria que tudo aconteça...

Se o médico for partidário dessa idéia, ótimo. Para alguém que incentiva o parto normal, quanto mais a mulher souber e estiver informada, melhor. Para ver modelos de planos de parto – um documento em que você indica suas opções – visite os sites indicados aqui no blog.

Parto normal – uma saga

Quando estava pensando em engravidar, da primeira vez, fui consultar um médico que me recomendaram. Eu tinha 36 anos e queria saber até quanto tempo era normal esperar desde o início das tentativas até engravidar mesmo, que vacinas era preciso tomar etc.
Batemos um pouco de papo e, antes mesmo de me examinar, o doutor disse:

– "Você só não espere ter parto normal".

– "Por que?", perguntei.

– "O primeiro filho, aos 36 anos...", respondeu ele. Assim, com reticências, como se fosse algo impossível, improvável. Nenhum fato mais concreto. Nenhuma estatística. Puro mistério.

Aquela foi minha primeira e última consulta com ele. E também o início de uma saga, e de uma coleção que mantenho até hoje: a de desculpas esfarrapadas.

O segundo médico a que fui, quando perguntei se fazia parto normal, me disse:

– "Mas você quer ter um parto normal, em São Paulo?"

Não entendi muito a ligação entre os assuntos: eu moro aqui, ele tinha consultório aqui...

– "No interior, onde tudo é mais sossegado e a maternidade fica próxima, tudo bem. Mas aqui, com esse trânsito...", foi a resposta.

E lá se foi a minha segunda vez de primeira e última consulta.


Quando já estava grávida, bem no comecinho, tentei uma médica. Lá pela segunda ou terceira consulta (já um recorde no meu caso), eu tinha lido um livro sobre gravidez e conversado com algumas amigas. Então comecei a perguntar:

1. "Você faz episotomia de rotina?" (Aquele dolorido corte no períneo que facilita bastante a vida do médico mas não a da mulher).

2. "Quanto tempo você espera até o bebê nascer?"

3. "Se eu precisar de uma cesárea vou ter de ficar amarrada na mesa?"

Respostas:

1. "Sim, claro, tem de fazer, você quer se rasgar inteira?"

2. "Não mais do que 40 semanas, é complicado..."

3. "É só um velcrinho, não é amarrada..."

Bom, foi minha terceira e última consulta.

A essa altura, eu começava a achar que encontrar um médico que fizesse parto normal, e sem tantas intervenções era praticamente um milagre. Fui então consultar o médico de uma amiga, a única que conhecia que tinha tido parto normal. Moço simpático, meu marido gostou, eu também. Ele falou que preferia fazer parto normal. Mais algumas consultas e lá fui eu, que continuava lendo e conversando, perguntar:

1. "Qual é a sua taxa de cesáreas?"

2. "Eu vou poder me movimentar como quiser durante o trabalho de parto?"

3. "Você faz episiotomia de rotina?"

Respostas:

1. "Não sei dizer, é alta, mas porque as mulheres pedem."

2. "Não, a gente coloca um sorinho na veia, deixa a veia pega, então, não dá para ficar zanzando..."

3. "Mas por que você quer saber?"

Quando falei que eu me sentia mais segura se soubesse o que aconteceria durante o parto, e que por isso estava lendo e me informando, veio a pérola:

– "Pra que? Não precisa. Pára de ler!!"

Saí do consultório e, mais uma vez, o Ricardo, meu marido, ouviu: "Eu não vou mais voltar nesse cara".

Só que eu já tinha um belo tempo de gravidez, e minhas opções pareciam ter voltado à estaca zero. O Ricardo começou a dizer que eu estava obcecada em ter um parto normal, que estava colocando isso acima de tudo... Discutimos. Mas eu não conseguia me ver com um médico, por mais bem intencionado que ele fosse (e acredito que era), que preferia que eu não soubesse de nada, que me dizia para parar de ler...

O livro que estava lendo naquele fatídico momento tinha vários relatos de parto (Mulheres Contam o Parto, de Adriana T. Nogueira e Ciça Lessa, editora Itália Nova, 2003. Recomendo). E eis que ali, no finalzinho, estava o link para o site amigas do parto. Quando digitei www.amigasdoparto.com.br, minha perspectiva mudou.

Era um site feito por mulheres, para mulheres, falando de parto normal. E havia lá o nome de duas doulas (vou contar em detalhes o que são em outro post): Ana Cristina Duarte e Andrea Amaral de Almeida Prado. Com um email!!

Escrevi para as duas, já um tanto desesperada, contando a minha história e pedindo a indicação de um médico que fizesse parto normal. Ambas foram gentilíssimas, solidárias e responderam rápido. Tinham 5 indicações.

Em uma cidade do porte de São Paulo só havia 5 indicações de médicos que faziam parto normal? Então, era praticamente um milagre mesmo! Prontamente comecei a ligar para todos na lista. Optei pela dra. Andrea de S. Queiroz Campos, que atendia próximo à minha casa, em uma ONG chamada Coletivo Feminista (as consultas ainda eram baratas!).

Na primeira visita, surpresa: em vez de subir naquela cama para ficar em posição ginecológica com as pernas apoiadas em suportes, deitei numa cama normal, e foi ela quem se ajoelhou ao meu lado, me oferecendo o espéculo (aquele aparelinho de terror que só pode ter sido inventado por um homem que odiava mulheres) eperguntando se eu gostaria de aprender a introduzí-lo. Andrea conversou comigo. Me ouviu. E me recomendou leituras e filmes.

Eu tinha encontrado um ser humano!!! Não pude disfarçar o meu alívio. A próxima tarefa foi convencer o meu marido a ir a uma consulta e conversar com ela. Àquela altura, ele tinha medo de que eu tivesse encontrado uma xiita que faria um parto normal mesmo à custa da saúde de nosso filho. O Ricardo foi. Conversamos os três. A médica explicou as razões que levariam a uma cesárea e as que não passavam de pretextos. O Ricardo tirou todas as suas dúvidas.

O resto da história? Eu tive um parto normal, com 36 anos de idade, em São Paulo, às 40 semanas e 2 dias de gestação, tendo como companhia, durante todo o tempo, o meu marido, Ricardo, a Ana Cris, que foi minha doula, e a dra. Andrea. Não foi pouco o tempo. Minhas contrações começaram numa sexta de manhã, se intensificaram à noite e a minha filha só nasceu no sábado às 21h30. Durante todo esse período, eu sabia o que estava acontecendo, recebi carinho e ajuda, fui respeitada e guiada com toda a consideração. Por isso, como já disse à Ana Cris e à Andrea, sei que minha filha é um pouco delas também.

Se você quer ter parto normal e aceita um conselho, o primeiro passo é encontrar um médico que realmente esteja disposto a desmarcar consultas, passar longas horas e acompanhar e respeitar a mulher para que isso aconteça.