segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para mim, "com penso", por favor

Uma conhecida contou que, quando conversava para contratar uma empregada e acabou de explicar quais eram os afazeres da casa, a moça perguntou:
– Mas Dona, aqui é "com penso" ou "sem penso"? Porque o preço é diferente...

Diante da cara de intriga da patroa, a moça explicou:

– Se a senhora é quem vai me dizer o que tem de cozinhar, como passar, onde limpar e tal, é mais barato. Agora, se eu é que tenho de pensar no que precisa fazer, aí é "com penso". Fica mais caro.

Além de amar essa história de "com penso" ou "sem penso", seja ela verdade ou lenda, a anedota me ajudou tremendamente a entender – e a explicar – ao meu marido que raios eu pretendia com relação à divisão das tarefas da casa e à criação dos filhos.
Eu descobri que queria – mais do que queria, precisava desesperadamente! – de um marido "com penso" depois que nossa primeira filha nasceu. Que dirá agora com dois!!
E não é que o Ricardo não ajudasse. Ele dizia, por exemplo:

– "Faz a lista do supermercado que eu vou e compro". Ou: "se você está se sentindo sobrecarregada, me diz o que quer que eu faça, que eu faço".

No início, não entendia porque essa operação não fechava para mim. Acontece que quando eu me dava conta pedia, mas continuava me sentindo sobrecarregada, levando o peso de tocar uma casa, o meu trabalho e a nossa filha. E o que pesava não eram necessariamente as tarefas (fazer a lista, escovar os dentes dela, botar dinheiro em casa), mas sim a responsabilidade, o planejamento para que todas essas coisas acontecessem. Alguém aí já ouviu uma mulher dizer:

– "Eu ajudo o meu marido na criação dos nossos filhos?"

Pois um marido que "ajuda" é a coisa mais comum. E é até louvável! Mas, vocês me desculpem, "ajudar" é "sem penso". Não é assumir a responsabilidade, perceber o que precisa ser feito, assumir a tarefa a seguir. Eu descobri que fazer a lista do supermercado ou saber avaliar o que é necessário e pedir ajuda significava que eu continuava a fazer metade da tarefa: todo o "penso" era por minha conta! O outro ia apenas executar. A moça lá tinha toda a razão: desse jeito é bem mais fácil!!

É claro que ter um marido "com penso" implica em abrir mão de que as coisas sejam feitas exatamente do seu jeito. E isso nem sempre é fácil para nós, mulheres. Você quer dividir tarefas, quer que seu marido troque fraldas, vista, dê banho ou distraia as crianças? Tudo bem. Mas ele fará isso do jeito dele. E não dá para ir lá e ficar fiscalizando, né? Ou você vai continuar sem largar a tarefa (além de ganhar oficialmente a carteirinha de insuportável).

Se a roupinha ficou uma parte de cima listrada com uma de baixo de bolinhas ou se ele não esfregou atrás da orelha como você fazia, é hora de tomar uma decisão: ou você ganha um tempo para você mesma enquanto seu marido cuida de certas coisas e aceita que ele é outra pessoa e executará as tarefas de outra maneira ou continua carregando o mundo nas costas e fazendo tudo, tão per-fei-ta-men-te quanto só você mesma sabe fazer.

Em casa, funcionou lindamente o modelo "com penso". E cada vez que eu me pego na tentação de querer arrumar alguma coisinha que já foi realizada PARO TUDO. E então respiro, me contenho a tempo, e repito para mim mesma:

– Dona, afinal, a senhora quer "com penso" ou "sem penso"?

Escolher implica sempre em abrir mão de algo. E eu me sinto bem melhor abrindo mão da minha pseudo perfeição em prol da responsabilidade compartilhada. Pra mim, "com penso", compensa mil vezes mais!! Para você, o que serve?

6 comentários:

  1. Olá Carô:

    com praticamente nove meses e meio, já contratei uma empregada para ajudar agora no final da gestação, e quando o bebê chegar. As limitações das ajudas são permanentes na vida de uma mãe que trabalha e tenta equilibrar a vida familiar com a profissional (ou seja, assumir uma tarefa que tem como objetivo obter alguma satisfação pessoal sem deixar de lado esses pimpolhinhos que tanto desejamos! Principalmente no meu caso, mãe tardia, com quase 40 anos... Meus trabalhos estão sempre condicionados ao horário da escola ou quando as crianças dormem, ou...) Sempre digo que preciso de uma governanta, não de uma empregada (mas lendo sua postagem descobri que uma empregada "com penso" serviria,mas sairia mais caro, assim como uma governanta...) Desse modo, temos de nos contentar com a ajuda de tantos que nos cercam, inclusive a de nossos maridos, que, apesar de muitas vezes não atenderem as nosssas expectativas de perfeição, estão lá, passando por tudo - ainda que de modo diverso - ajudando no que podem, e muitas vezes no que não podem, mas ao nosso lado, solidários. E essa é a palvra-chave da ajuda: solidariedade.
    Meu alento, como mãe de segunda viagem, é saber que "tudo passa, Marília, tudo passa". Logo as crianças crescem (logo mesmo), e a solidariedade inicial passa a ser ajuda consistente e o tempo começa a se materializar e a satisfação com o trabalho reaparece, pouco a pouco.
    Mas sabe que nesse momento essa saisfação começa a ficar meio secundária (apesar de não desaparecer nunca) tendo em vista a que sentimos quando esses serzinhos pulam de alegria toda vez que chegamos em casa, cansados, depois de um dia de labuta?!...
    Marta - São Paulo/SP

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  2. Pois é Marta, vida de malabarista não é mole. Mas eu não me enxergo abrindo mão de nenhum dos pratinhos que, feito chinesa, tento manter girando todos os dias no ar: nem a profissão, nem os filhos, nem o companheiro, a casa...
    O difícil, pra mim, é conseguir pedir ajuda e admitir que não dá para ser auto-suficiente sempre. E, sobretudo, que é preciso abrir mão do perfeccionismo, da auto-cobrança, pra levar a vida em paz.

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  3. Adorei essa postagem. Como virginiana e perfeccionista que sou, tenho que me controlar muito para não ficar dando palpites. Foi muito bom ler a respeito acho que conseguirei ficar mais "relaxada".

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  4. Carô,
    Achei muito bom esse seu post. Parabéns!
    Agora, em relação a empregadas (não a maridos) está cada vez mais difícil encontrar uma "com penso".
    Beijos

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  5. Carô,
    Sensacional !!!! Gostei de ter vindo aqui e conhecido seu blog.
    Muito bom. Também tenho 42 e uma filha de 4... quem sabe qualquer dia desses mais um bebê ?!?!?! Somos malucas, né ? Mas é uma maluquice tão linda, tão infinitamente maravilhosa, que com um pouquinho de "penso" a gente acaba sempre dando conta !
    Parabéns !

    Beijo,

    Solange Maia

    Quando puder visite meu “Eucaliptos” :

    http://eucaliptosnajanela.blogspot.com

    e tem um espaço divertido que fiz para anotar as falas fofas da minha pequena :

    http://bebelaemcontagotas.blogspot.com

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  6. eu gosto de receber a lista de supermercado e fazer minhas adições. começo a entender a cara da ana quando eu digo a mesmíssima frase que o ricardo diz!

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