quinta-feira, 28 de maio de 2009

Exaustão

23h30. Mamada, tudo certo, parece que vamos dormir. 1h, primeira acordada. Chupeta e de volta ao sono. 2h, segunda acordada. 4h, terceira acordada e só a chupeta já não adianta, um pouco de colo. 4h30, mais colo e os braços parece que não vão conseguir segurar os 7 quilos e tanto... 5hs, cólicas, contorsões, berreiro deflagrado. "Tem que fazer alguma coisa", diz o pai. "Assim não dá". Resta saber quem é a pessoa que "tem que fazer alguma coisa". Digamos que a mãe, depois da oitava acordada da noite - fora a mamada –, já no sofá da sala pra tentar não incomodar o resto da família não tem condições de fazer coisa alguma. Muito menos de aguentar frases sem sujeito ("alguém"?)...
Às 6hs eu me rendo e tento a última cartada: dou de mamar novamente, um cocô preso finalmente sai e o bebê é só alegria.
– "Abrrrrrr, arru, mamam...."
Puro sorriso vendo as luzes do amanhecer, procurando assunto como se a noite tivesse sido de sono ininterrupto. Ele é tão fofo que acaba me arrancando alguma alegria de volta e um certo alívio porque a cólica chegou ao fim, mas o sono é tanto que a cabeça dói. E sei que em 1 hora no máximo minha filha acorda. E que em duas horas eu preciso voltar a funcionar: textos esperam leitura, tenho um almoço de trabalho no qual preciso responder perguntas com alguma coerência. Eu tenho de voltar a ser uma pessoa, embora me sinta um trapo. Minha fantasia é mergulhar na escuridão do quarto e ali ficar, imóvel, por uns 2 dias. Licenças-maternidade deveriam durar até que o filho engatasse uma noite inteira de sono...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Para mim, "com penso", por favor

Uma conhecida contou que, quando conversava para contratar uma empregada e acabou de explicar quais eram os afazeres da casa, a moça perguntou:
– Mas Dona, aqui é "com penso" ou "sem penso"? Porque o preço é diferente...

Diante da cara de intriga da patroa, a moça explicou:

– Se a senhora é quem vai me dizer o que tem de cozinhar, como passar, onde limpar e tal, é mais barato. Agora, se eu é que tenho de pensar no que precisa fazer, aí é "com penso". Fica mais caro.

Além de amar essa história de "com penso" ou "sem penso", seja ela verdade ou lenda, a anedota me ajudou tremendamente a entender – e a explicar – ao meu marido que raios eu pretendia com relação à divisão das tarefas da casa e à criação dos filhos.
Eu descobri que queria – mais do que queria, precisava desesperadamente! – de um marido "com penso" depois que nossa primeira filha nasceu. Que dirá agora com dois!!
E não é que o Ricardo não ajudasse. Ele dizia, por exemplo:

– "Faz a lista do supermercado que eu vou e compro". Ou: "se você está se sentindo sobrecarregada, me diz o que quer que eu faça, que eu faço".

No início, não entendia porque essa operação não fechava para mim. Acontece que quando eu me dava conta pedia, mas continuava me sentindo sobrecarregada, levando o peso de tocar uma casa, o meu trabalho e a nossa filha. E o que pesava não eram necessariamente as tarefas (fazer a lista, escovar os dentes dela, botar dinheiro em casa), mas sim a responsabilidade, o planejamento para que todas essas coisas acontecessem. Alguém aí já ouviu uma mulher dizer:

– "Eu ajudo o meu marido na criação dos nossos filhos?"

Pois um marido que "ajuda" é a coisa mais comum. E é até louvável! Mas, vocês me desculpem, "ajudar" é "sem penso". Não é assumir a responsabilidade, perceber o que precisa ser feito, assumir a tarefa a seguir. Eu descobri que fazer a lista do supermercado ou saber avaliar o que é necessário e pedir ajuda significava que eu continuava a fazer metade da tarefa: todo o "penso" era por minha conta! O outro ia apenas executar. A moça lá tinha toda a razão: desse jeito é bem mais fácil!!

É claro que ter um marido "com penso" implica em abrir mão de que as coisas sejam feitas exatamente do seu jeito. E isso nem sempre é fácil para nós, mulheres. Você quer dividir tarefas, quer que seu marido troque fraldas, vista, dê banho ou distraia as crianças? Tudo bem. Mas ele fará isso do jeito dele. E não dá para ir lá e ficar fiscalizando, né? Ou você vai continuar sem largar a tarefa (além de ganhar oficialmente a carteirinha de insuportável).

Se a roupinha ficou uma parte de cima listrada com uma de baixo de bolinhas ou se ele não esfregou atrás da orelha como você fazia, é hora de tomar uma decisão: ou você ganha um tempo para você mesma enquanto seu marido cuida de certas coisas e aceita que ele é outra pessoa e executará as tarefas de outra maneira ou continua carregando o mundo nas costas e fazendo tudo, tão per-fei-ta-men-te quanto só você mesma sabe fazer.

Em casa, funcionou lindamente o modelo "com penso". E cada vez que eu me pego na tentação de querer arrumar alguma coisinha que já foi realizada PARO TUDO. E então respiro, me contenho a tempo, e repito para mim mesma:

– Dona, afinal, a senhora quer "com penso" ou "sem penso"?

Escolher implica sempre em abrir mão de algo. E eu me sinto bem melhor abrindo mão da minha pseudo perfeição em prol da responsabilidade compartilhada. Pra mim, "com penso", compensa mil vezes mais!! Para você, o que serve?