segunda-feira, 30 de março de 2009

Cólicas: a vida no portal da agonia

Minha filha Ana teve algumas cólicas leves, que começavam principalmente ao cair da tarde. Nada que um pouco de funchicórea, massagens na barriguinha e alguma paciência não fossem capazes de acalmar.
Agora, estou às voltas com as cólicas do André. Por momentos ele dorme, pacificamente, e, do nada, solta um grito pavoroso: lá vem mais uma. Parece impossível que caiba tanta dor dentro de alguém tão pequeno...
Ele se contorce, chuta, seus olhos reviram em pânico, a barriga tensa. Ficamos, impotentes, cada um numa das margens da dor. Tudo o que posso fazer é aninhá-lo de encontro ao meu corpo e repetir estupidamente ao seu ouvido:
– "Calma, vai passar..."
Até que algo dentro dele afrouxa misteriosamente e um suspiro traz distensão e enfim... alívio.
Já parei de tomar leite de vaca (por recomendação do pediatra, já que as proteínas do leite podem irritar o estômago do bebê), parei de tomar suco de limão e comer frutas ácidas (por pura simpatia, a faxineira disse que provocavam cólicas). Chocolate, feijão e batata doce, nem pensar. Tô naquele estado: o que as pessoas dizem, vou fazendo. Vai que ajuda? Daqui a pouco viro faquir.
Porque chega uma hora em que você apela. É uma terrível frustração ver o pequeno se debatendo, em agonia. Fora a culpa (será que foi aquela mordida num chocolate? O suco que tomei? Que raios eu fiz para matar o meu filho de cólica, meu Deus?)
Tentamos vários remédios e até importamos um natueba dos Estados Unidos (gripe water). Por vezes funciona, por vezes nada parece adiantar. Depois de um certo tempo segurando o bebê que grita, bate um calor, um desespero. Mais um pouco e você já não sabe o que fazer: deu funchicórea, fez massagem, tentou acalmar, sacodiu, passeou pela casa, apelou pro tilenol e está quase chorando junto ou por vezes – sejamos honestas – querendo jogar fora aquela criaturinha que urra bem na cavidade da sua orelha...
Essa é a hora de trocar de braços. Se chegar nesse nível de exasperação, não duvide: entregue o bebê ao pai, à sogra, à mãe, a qualquer pessoa que esteja um pouco mais lúcida e descansada. Pode operar verdadeiros milagres. O bebê deixa de sentir a sua tensão, recobra alguma calma e... mágica! Consegue acalmar também...

terça-feira, 24 de março de 2009

Fashion baby

4h20 da manhã. Quarto na penumbra. E você ali, completamente zumbi, tentando fazer as coisas devagar para o mais velho não acordar e o bebê não chorar. E perdendo a luta feio para o décimo sétimo botão de pressão da roupinha...
Senhores fabricantes de roupas de bebês: mais compaixão, por favor! Será que não tem um jeito de não precisar enfiar os bodys pela cabeça, de não ter de encaixar tanto botãozinho numa matemática absurda? É de noite, plena noite, e a fralda vaza...
Já ouviram falar em velcro? Quem sabe tirinhas? Não é possível deixar barriguinhas quentes sem tanto dilema? Um kimono talvez? Encaixa uma fitinha num buraco, amarra (ou prende com velcro) e... pronto!
Qualquer segundo ganho na madrugada vale rubis e diamantes, vale a gratidão de mulheres cansadas, com olheiras, vale melhor humor e bebês mais bem cuidados.
Vou começar a campanha: abaixo os botões de pressão! Ou será que é só a minha coordenação motora que durante a noite vai para o saco?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Bebês não são seres razoáveis

Primeiro um grunhidinho e aí você pensa: “Ah, ele está acordando...”
Mas o próximo som já é um grito lancinante, como se ele estivesse tendo a pele arrancada sem anestesia!! Nada de se espreguiçar um pouquinho, dar um tempo... A noção de “calma” e o som da frase “espera um minutinho” não fazem nenhum sentido em sua pequena vida. Enquanto você está abrindo uns 3 ou 4 botões para dar de mamar, o bebê já se desesperou como se o apocalipse batesse à porta.
De fato, bebês não são seres razoáveis. Suas emoções e sensações se manifestam em estado puro: vão do êxtase relaxado depois da mamada à agonia das cólicas, passando pela sofreguidão quando a fome bate e aquele bocão fica aberto, procurando, em desespero.
E não é simples lidar com emoções em estado puro. Mas só assim eles conseguem se defender. Se não gritassem a plenos pulmões, como alguém os recolheria do berço e lhes daria o que precisam? Se seu estrondo não incomodasse durante a madrugada, como fariam uma mãe sonolenta depois da terceira mamada acordar para uma quarta?
É por isso que esses pequenos seres têm uma força incrível à disposição: berrar como se não houvesse amanhã. Quem falou que vida de bebê era fácil?

sábado, 7 de março de 2009

A mulher-polvo

O braço esquerdo enlaça o bebê de encontro ao meu corpo. O direito segura o frasco. A boca gira a tampinha. Um pouco de malabarismo e... voilá! Consigo abrir o vidro de remédio para cólicas sozinha e puxar o líquido para dentro da seringa.
Desde que o André nasceu, meus braços, mãos, pés e joelhos têm sido usados com muito mais criatividade. Fruto apenas de necessidade, não que eu esteja treinando para ser contorcionista...
Mas se ver sozinha, às voltas com um bebê que chora e uma menina de 4 anos que pede coisas, exige adaptações corporais nunca dantes exploradas.
Descobri que meus braços se multiplicam. A mulher-polvo aqui consegue ler um livrinho (virando as páginas!) e embalar o bebê. Com a ajuda dos pés, então, dá para trocar uma fralda, abrir o cesto do lixo e ainda falar ao telefone ao mesmo tempo!
Não que eu faça isso o dia inteiro, nem que pretenda enlouquecer de vez. Mas quem nunca se viu amamentando um, dando bronca no mais velho ao mesmo tempo e sem saber o que fazer com a campainha que toca, que atire o primeiro tentáculo!

terça-feira, 3 de março de 2009

A segunda vez, quanta diferença! Parte II

Se a primeira gravidez foi mais curtida e menos conturbada do que a segunda (afinal, você tinha todo o tempo do mundo para a barriga), trago uma ótima notícia para as mães de segunda viagem: o nascimento e os primeiros tempos com o bebê são uma delícia com o segundo filho!!
Sabe aquela ansiedade: estou segurando ele direito? Ele fez xixi suficiente? A mamada está correta? Desapareceu. Você já sabe que é capaz de trocar uma fralda, aguentar um choro, dar banho. E tudo vira um enorme prazer. Aquele cheirinho de bebê te esperando no quarto ao lado, as caretas e sorrisinhos que fazem, aquela bolinha se aninhando no seu peito, satisfeita, depois de mamar.
Me lembrava desses primeiros tempos de peitos cheios, mamadas irregulares e noites mal dormidas com um certo medo. Dá um trabalho louco, mas o fato é que estou curtindo demais ter um outro bebê. Tudo flui mais relaxado, o que é supérfluo não importa. E os dias são de um enorme, intenso amor por essa nova família que se configura. É muito diferente estar a 4 do que a 3! Agora sim formamos uma turma. E surgiu uma divisão que antes inexistia: "os adultos" e "as crianças". Os papéis novamente mudam. Sutilmente tudo se acomoda. E para muito, muito melhor.